
Política
Diplomata critica falta de liderança do Brasil durante pandemia e destaca atuação de Argentina e Índia
'Infelizmente, devido ao comportamento do presidente, o Brasil está numa categoria em companhia de muitos poucos países, nenhum da importância nossa', declarou o ex-embaixador do Brasil nos EUA

Foto: Ministério das Relações Exteriores
O diplomata Rubens Ricupero reclamou da falta de liderança no Brasil meio à pandemia do coronavírus e caminho do governo brasileiro rumo ao caos. Em entrevista a Mário Kertész hoje (12), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele declarou que o país será, em breve, pode se tornar epicentro mundial da transmissão da doença.
"As ações e declarações são, de fato, desastrosas. Infelizmente, devido ao comportamento do presidente, o Brasil está numa categoria em companhia de muitos poucos países, nenhum da importância nossa. Os únicos casos de países negacionistas como o Brasil que eu me lembre são a Nicarágua, do Daniel Ortega, o Turcomenisquitão e a Bielorrússia, onde o presidente diz que vodca é o melhor remédio contra o vírus. Esses três países nunca tiveram, nem de longe, a expressão específica que tem o Brasil", disse o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos.
Ainda de acordo com Ricupero, na América do Sul, o protagonismo no combate ao coronavírus passou a ser da Argentina. De acordo com o diplomata, a adoção rápida de medidas contra a propagação da doença fez a diferença no país vizinho. "Os brasileiros gostam muito de olhar para a Argentina com um falso sentimento de superioridade. O presidente Alberto Fernandéz identificou logo de início o perigo. Ele decretou o lockdown, não o distanciamento. Ele proibiu sair na rua no dia 23 de março, quando o vírus começava a chegar na América do Sul. Agora, dois meses depois, a Argentina tem um número de menos de 300 mortos. Menos que 10% que as vítimas do estado de São Paulo, que tem mais ou menos a mesma população da Argentina, cerca de 46 milhões de habitantes", declarou.
"Estão em uma situação bem melhor que a nossa. Ele chamou o ex-presidente Macri para partilharem uma decisão em uma união nacional, em seguida todos os governadores de província. Ele é meio artista e gosta de tocar violão. Outro dia, numa emissora de televisão, ele de um concerto para tranquilizar as vítimas. Veja a diferença da água para o vinho. É um país como o nosso, vizinho. Agora estão apavorados com o Brasil, tanto ele como os presidentes do Uruguai e Paraguai, que olham o Brasil como uma ameaça e chamam o Brasil de uma 'bomba sem controle'. Essa é a diferença que faz a liderança", acrescentou.
Ricupero comentou a situação da Índia como outro exemplo a ser seguido na pandemia. "Na Gripe Espanhola, o país responsável por metade das mortes foi a Índia. Dos 50 milhões, 20 a 25 milhões de pessoas morreram na Índia. Dessa vez, se imaginava que aconteceria a mesma coisa. Tem mais habitantes ainda, hoje eles têm 1,4 bilhão de habitantes. Mas o primeiro ministro Modi teve um comportamento oposto ao do Bolsonaro. Logo em março, ele decretou também lockdown como Alberto Fernandéz, num país difícil como a Índia que é difícil de controlar. Quem saía na rua era preso. A Índia, com mais de 1,4 bilhão de pessoas, só teve 3 mil mortes, bem menos que o Brasil e menos que o estado de São Paulo. Veja a diferença que faz a liderança", declarou o diplomata.
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