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"O que está por trás das noites de tiroteios como os desta semana entre os traficantes dos bairros de Arenoso e de Tancredo Neves?", questiona professora de Comunicação
Foto: Reprodução/Radio Metropole
Todos os dias à meia-noite, de qualquer bairro de Salvador onde se esteja, ouve-se o som de fogos de artifício. O som é pontualíssimo e, embora todo mundo saiba quem promove o foguetório, ninguém sabe responder com precisão o que o fenômeno significa. A quem quer que se pergunte quem solta os fogos da meia-noite, a resposta é só uma: o tráfico. Aqui e ali lendo em manchetes e notícias, a população vai aprendendo e esquecendo um monte de siglas equivalentes às muitas facções que hoje movimentam a engrenagem do tráfico, da distribuição e do consumo de drogas em Salvador.
São nomes de líderes, baralho e cartas do crime, sucessores dos mortos, braços direitos e seus nomes estranhos na identidade do tráfico. São muitas as siglas e um paradoxo está posto. Por todos os ângulos que se observe, o do índice de homicídios na cidade, na região metropolitana, na Bahia ou no país, o tráfico está inserido. É o protagonista da violência. O mercado privado de segurança para casas, condomínios, carros, estabelecimentos comerciais é consequência direta do tráfico de drogas e das suas ações tentaculares. O medo de andar rua, os arrastões, tudo. Basta puxar o fio e está logo ali a espinha dorsal: o tráfico.
Então, como podemos saber tão pouco sobre este cenário e sobre suas estruturas na quarta maior cidade brasileira? Quem estuda hoje a reatualização diária do tabuleiro dos principais agentes do mercado do tráfico em Salvador? Quais e quantas são as facções atuantes em Salvador? E com que grandes outras essas facções se articulam? No Rio de Janeiro, em São Paulo, em Fortaleza, em Manaus, no Centro-Oeste ou no exterior? Esses dados existem e apenas a estrutura de segurança pública não quer ou não pode permitir que entidades organizadas da sociedade civil tenham acesso ou pouco ou nada se sabe da estrutura e o que a polícia faz todo dia é enxugar gelo, meio às cegas, enfrentando cada conflito num bairro como se fosse mais um, mais um e mais outro?
O que está por trás das noites de tiroteios como os desta semana entre os traficantes dos bairros de Arenoso e de Tancredo Neves? Sabemos apenas o que dizem os fragmentos do jornalismo policial que ainda se faz na cidade, já que este assunto parece ser tema de ninguém. Sabemos apenas os aspectos que falam de números de mortos, de horas de tiroteio e da quantidade de munição usada. O que está em jogo nesses confrontos de facções, quando, por noites seguidas, um dos bairros literalmente não dorme com rajadas de tiros por armas que nem a polícia tem? O que está em jogo quando granadas são deixadas na rua e quando o transporte coletivo é suspenso em dois bairros, deixando a população inteira sem poder se locomover, trabalhar, sair de casa, ir ao hospital?
De que disputa exatamente estamos falando? Qual é o tamanho do mercado de drogas que está sendo disputado neste caso? De quantos milhares de reais por dia estamos falando? De quantos milhões por mês, por semestre, por ano? Quem introduz e por quais caminhos é introduzida a droga, e que tipo de droga, nesses bairros? E de lá? Essa droga sai para abastecer que segmentos na cidade, em quais bairros?
O cidadão vive assombrado de medo de morrer por um celular, de sofrer sequestro relâmpago, de ser obrigado a fazer Pix para o assaltante e ao mesmo tempo parece ter pouco ou nenhum interesse em entender qual é a estrutura e o esqueleto do crime que lhe leva a essa condição e a essa dimensão de insegurança pública.
Todo mundo fica, como diria Raul Seixas, com a boca aberta esperando a morte chegar, deslizando o scrolling do celular e aparentemente interessadíssimo na última banalidade dos ricos, dos famosos e dos digitais influencers e seus dinheiros. E não tem ideia ou parece não querer ter, da arquitetura de morte que ronda todo mundo. "Os fogos, ah", dizem uns, "é pra avisar que a droga chegou". É sério? Alguém acredita que em 2023, estruturado como tráfico de drogas está, facção alguma precisa anunciar droga com foguete na cidade inteira? Ninguém sabe é de nada. Procure saber de onde vem o seu medo.
*Malu Fontes é jornalista e comentarista da Rádio Metrópole
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