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Historiadora diz que "interesses autoritários" e "autocensura" da sociedade permitiram ditadura no Brasil

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Historiadora diz que "interesses autoritários" e "autocensura" da sociedade permitiram ditadura no Brasil

Escritora entrevistou censores federais para sua pesquisa, que virou o livro "Cães de Guarda: Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988"

Historiadora diz que "interesses autoritários" e "autocensura" da sociedade permitiram ditadura no Brasil

Foto: Reprodução/Rádio Metropole

Por: Metro1 no dia 08 de agosto de 2023 às 09:59

Atualizado: no dia 08 de agosto de 2023 às 15:24

A historiadora Beatriz Kushnir, escritora do livro "Cães de Guarda: Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988", foi entrevistada na Rádio Metropole nesta terça-feira (8). Ela falou sobre a pesquisa que fez para o livro, que também foi sua tese de doutorado, relançado em sua terceira edição este ano.

Para o trabalho, ela entrevistou 13 censores federais, contratados do governo na época para aplicar a censura em diversos setores, como cinemas, TV, rádio, educação. A pesquisa de Beatriz aponta que, no total, foram contratados 220 censores em todo o país.

"Essa quantidade de funcionários não teria como fazer a censura no país inteiro. O que aconteceu foi uma adesão a partir da autocensura, que é o motivo da censura ter dado certo no Brasil, porque houve uma autocensura nos meios de comunicação", afirmou. "As empresas de comunicação têm donos, ali só sai o que o dono quer, há uma limitação do trabalho do jornalista frente aos interesses do dono da empresa", disse.

Beatriz foi uma das pesquisadoras responsáveis pela descoberta de que o grupo Folha teria emprestado carros de distribuição do jornal para que agentes da repressão os usassem a fim de disfarçar operações do regime nas ruas, e que teriam resultado em prisões, assassinatos e desaparecimento de militantes da esquerda armada.

A pesquisadora refletiu sobre os motivos da ditadura ter se mantido durante 21 anos no país, entre 1964 e 1985. "Se todo mundo depois da anistia se diz contra a ditadura, como durou 21 anos? Houve sincronia entre interesses autoritários da sociedade brasileira com aquele período. Não à toa tivemos o governo Bolsonaro e uma adesão a isso. Ao longo da República, tivemos mais estado de exceção do que democracia", refletiu Kushnir.

Ela aponta que o fato de termos vivido uma democracia estável desde 1985 nos fez esquecer que tivemos longos períodos ditatoriais. "A democracia foi novamente rompida com o impeachment de Dilma Rousseff, por um ato autoritário", acrescentou.

Veja a entrevista: