O modelo de grande produtividade leva a problemas psíquicos, explica filósofo Vladimir Safatle

O capitalismo acelerou as crises humanas e ambientais. As exigências de um sistema altamente produtivo passaram a gerar uma crise que visa obter mais recursos independente das consequências destrutivas que o modelo pode levar. A discussão foi apresentada pelo filósofo Vladimir Safatle, nesta sexta-feira (7), na Rádio Metropole. 

“O capitalismo não consegue gerenciar as crises que ele mesmo produz. A gente não tem como gerenciar dentro desse processo. O que acontece quando as crises vem? O capitalismo acelera, ele não  freia, ele não para o processo produtivo, ele acelera. A gente está em um processo onde a gente acelerou as duas maiores ilusões que o capitalismo tem que é a produção infinita de valor da terra e do trabalho, de extrair valor de maneira praticamente infinita da terra e do trabalho. Só que os dois são ilusões. E são ilusões constituintes desse modelo, onde o modelo não para, ele acelera”, explicou.

“Então que ele faz? Ele começa a desmatar cada vez mais, porque ele quer acumular cada vez mais, ele quer que você aumente o processo de acumulação.   Você conseguiu desarticular todo sistema de freios, então agora você vai sozinho”, ponderou.

Satafle também ressaltou que essa imposição de um modelo cada vez mais exigente, orientado pelo modelo de grande produtividade, induz a sociedade a entrar em um ciclo vicioso do operacional que estão levando à crises na saúde psíquica e emocional. 

“A gente está em uma sociedade que tem 13,5% da sua população diagnosticada com transtornos depressivos. 9,7% da população brasileira diagnosticada com transtorno de ansiedade, o transtorno de ansiedade é o maior nível do mundo. Tem praticamente ¼ da população diagnosticada com algum tipo de problema psíquico”, relatou.

“Ele [o sistema capitalista] procura extrair ainda mais valor do trabalho, ou seja, fazer as pessoas trabalharem ainda mais. Mesmo que elas entrem numa crise psíquica brutal. O sofrimento psíquico não é um problema de um déficit apenas seu, um problema neural seu, de alguma incapacidade sua de amar ou de fazer isso e aquilo. Não, ele também tem relações muito profundas da forma que ele desenvolve suas atividades cotidianas”, completou. 

Confira o programa na íntegra: