Francisco Bosco: a regulação das redes é tanto um problema teórico quanto político

Em Salvador para o lançamento do seu livro “Meia palavra basta”, o  letrista, ensaísta, compositor e filósofo Francisco Bosco discutiu, em entrevista na Metropole, sobre a forma como a população vem lidando com os debates e como muitos deles chegam a ser intensos, mas nem sempre profundos. Para o autor, as redes sociais têm tido papel fundamental nisso, mas a regulação delas passa por um problema que é teórico (no conceito de liberdade de expressão) e também político. 

“Há várias formas de avaliar isso, a que mais gosto é como [analisar] consequência do fato de as redes sociais digitais terem se tornado a dimensão central do debate. Porque essas redes digitais são organizadas por dentro pelos famigerados algoritmos, uma editoria invisível que vai fazendo com que as pessoas se agrupam em bolhas ideológicas”, explicou Bosco. O problema, segundo o autor, é que a lógica seguida é a recompensa aos que seguem a bolha e a intimidação ou o famoso cancelamento a quem desafina de seu coro. 

“Isso é muito ruim para o intelectual e para o debate público como um todo [...] um debate público, para ele funcionar, é preciso que os seus participantes tenham uma boa fé epistêmica. É preciso que eles entrem no debate com uma margem de manobra cognitiva, para se deixar transformar pelos argumentos, pelas evidências, pelos dados empíricos que são apresentados”, complementou. 
 
Para o autor, o debate público no Brasil permanece muito parecido com essa centralidade das redes digitais e isso levanta a necessidade de regular o funcionamento delas. “Mas de que modo? Permanece um problema. Tanto um problema teórico, como é que faz isso sem avançar sobre princípios importantes de liberdade de expressão? E também um problema político, porque o Congresso Brasileiro hoje é muito dominado por essa mesma direita conservadora ou reacionária a quem não interessa nenhum tipo de regulação”, apontou.

Confira a entrevista: