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Natimortalidade é até 68% maior em municípios mais vulneráveis, aponta estudo

Saúde

Natimortalidade é até 68% maior em municípios mais vulneráveis, aponta estudo

Pesquisa da Fiocruz e instituições internacionais revela que desigualdades socioeconômicas freiam a redução da natimortalidade no Brasil

Natimortalidade é até 68% maior em municípios mais vulneráveis, aponta estudo

Foto: Fotorech/Pixabay

Por: Metro1 no dia 14 de novembro de 2025 às 09:29

O risco de um bebê morrer durante a gestação ou o parto pode ser até 68% maior em municípios com maior vulnerabilidade socioeconômica. A conclusão é de uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada em parceria com a London School of Hygiene and Tropical Medicine, a Universidade de São Paulo (USP) e a Western University, no Canadá.

O estudo mostra que, ao longo de 18 anos, a taxa de natimortalidade permaneceu praticamente estável nos municípios mais vulneráveis, enquanto apresentou queda naqueles com melhores condições socioeconômicas.

A análise considerou todos os nascimentos registrados no Brasil entre 2000 e 2018 pelo Ministério da Saúde e relacionou esses dados ao Índice Brasileiro de Privação, que classifica os municípios conforme níveis de renda, escolaridade e condições de moradia.

Publicado na revista BMC Pregnancy and Childbirth, o artigo buscou verificar se a redução nacional da natimortalidade foi uniforme entre municípios com diferentes níveis de privação, com o objetivo de apontar áreas que precisam de mais apoio e orientar estratégias para diminuir as mortes fetais onde o problema é mais grave.

Embora dados anteriores já indicassem uma queda de 30,7% na taxa nacional de natimortalidade entre 2000 e 2019, de 10,1 para 7 mortes a cada mil nascimentos, nenhum levantamento havia examinado, de forma tão abrangente, as desigualdades entre municípios.

“Agora, as evidências mostram claramente que essa diferença existe e tem impacto real nas taxas de natimortalidade”, afirma a pesquisadora Enny Paixão, da Fiocruz Bahia.

Em 2018, último ano analisado, o país registrou 28,6 mil casos de morte fetal após a 20ª semana de gestação ou durante o parto, o equivalente a 9,6 natimortos por mil nascimentos. Nos municípios com melhor situação socioeconômica, a taxa cai para 7,5, enquanto sobe para 11,8 nas localidades com maior privação.

Segundo os pesquisadores, avanços gerais nas políticas de saúde, educação e saneamento podem ter contribuído para a queda da taxa média nacional. Entretanto, Paixão observa que essas melhorias não parecem ter beneficiado os municípios mais pobres com a mesma intensidade. Uma possível razão é que essas áreas concentram populações rurais em regiões remotas, que precisam percorrer longas distâncias para acessar serviços, especialmente os de maior complexidade.

Ela destaca ainda que desigualdades estruturais, como falta de serviços, dificuldade de acesso e baixa qualidade da assistência, podem comprometer o pré-natal e o atendimento durante o parto.
Para a pesquisadora, avaliar a natimortalidade segundo o nível de privação municipal “é fundamental” para identificar localidades que precisam de melhorias no acesso e na qualidade da atenção perinatal.