
Saúde
Badaró critica desorganização no sistema de regulação: 'A gente está enxugando o gelo'
Infectologista se diz preocupado com a 'organização das trincheiras' na guerra contra o coronavírus

Foto: Mateus Pereira/GOVBA
O médico infectologista Roberto Badaró criticou a atual situação do sistema de regulação de saúde na luta contra a Covid-19. Em entrevista a Mário Kertész hoje (8), na Rádio Metrópole, ele argumentou ser necessário rediscutir como as unidades básicas estão tratando as pessoas que buscam atendimento inicial contra o coronavírus. Badaró defende que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) devem promover tratamento aos pacientes com casos leves e encaminhar os mais graves para hospitais de campanha ou centros de saúde destinados exclusivamente para a Covid-19.
"Às vezes, nas UPAs, estão fazendo a regulação desses doentes e muitas vezes demoram horas e até dias para serem encaminhados para um hospital de campanha. Mais grave ainda é a confusão que está havendo entre o paciente com insuficiência respiratória, devido à pneumonia severa da Covid-19, e aqueles com insuficiência respiratória devida as outras causas que sempre tiveram, insuficiência cardiovascular, diabetes graves ou com condições renais graves", declarou o infectologista, que alerta para o problema grave, que pode travar o sistema de saúde da capital baiana e do estado.
"Quando chega nesses hospitais, o paciente é diagnosticado e visto que não tem Covid, mas agora ele não pode mais sair pois há a suspeita de contaminação e que ele, não pode ser contra-regulado. Isso está fazendo com que a gente sacrifique aquelas unidades construídas especialmente com especialistas para tratar de Covid com doenças que necessariamente deveriam estar em outras unidades de terapia intensiva", aponta.
" Isso dá uma aparente desorganização e falta de condições dos leitos que estão sendo organizados para tratar Covid. Estão superlotados com, em alguns deles, 40% de doentes que não têm Covid, mas acabam virando", acrescenta.
O especialista, que é integrante do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, diretor do Instituto de Tecnologias de Saúde do Senai Cimatec e diretor médico do Hospital Espanhol, alertou que as autoridades estão "enxugando o gelo". "O que está congestionando o sistema de saúde é a falta de organização da trincheira. Se você não organizar em linhas e dar a atenção básica, como esse paciente com caso leve que tem que ser atendido e tratado, evita que ele volte como caso grave. É necessário que as autoridades sentem e refaçam suas estruturas. Essa regulação não está ajudando a fazer o cuidado adequado de forma geral", disse.
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