
Saúde
Psiquiatra alerta que violência contra mulher pode trazer danos para bebês durante gravidez
Especialista afirma que momento de isolamento social pode piorar relação de casais com "vínculo doentio"

Foto: Metropress
Professor Colaborador Médico do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Joel Rennó Jr conversou hoje (17) com Mário Kertész no Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole e comentou os reflexos da violência contra a mulher. Segundo o especialista, há risco da violência contra grávidas causar traumas até mesmo nos bebês.
"Mulheres grávidas têm sido alvo de violência doméstica, o que acaba sendo muito triste. A gente sabe que essas violências geram um efeito chamado na psiquiatria de epigenético. Qualquer situação estressora durante a gravidez leva a uma modificação genética no cérebro do bebê. Mais tarde, esse bebê vai ter consequências desse stress vivido pela mãe dele numa situação traumática", afirma.
Ainda de acordo com o psiquiatra, parte das autoridades e órgãos públicos destinados ao atendimento à mulher vítima de violência já tem noção da melhor forma de atender essas pacientes. No entanto, ainda há muito a ser feito. "São fatores socioculturais muito importantes. Apesar dos avanços e autoridades esclarecidas em todas as áreas de conhecimento, a gente sabe que o homem ainda tem a mulher como objeto de posse e de propriedade dele. Ele não aceita que essa mulher reconstrua a vida dela com outro parceiro. Ninguém mata por amor. Não gosto quando sai uma notícia que fala que matou porque tinha ciúme. Ciúme não é algo essencialmente patológico. Você pode ter ciúme de sua esposa sem querer ser destruí-la ou ser agressivo com ela. Até pode ser positivo em algumas situações. Mas fico muito preocupado com as questões culturais", declarou.
Na avaliação de Rennó, o momento de pandemia pode agravar problemas de mulheres violentadas em seu próprio domicílio. "A gente sabe que tem algumas características de personalidades, homens que são muito narcisistas e acabam olhando muito para os seu próprio ego, não gostam de ver o outro se destacando. Não é um relacionamento saudável. As pessoas me perguntam se a Covid-19 piorou o relacionamento. Não necessariamente. A gente vê relacionamentos mais fortes onde as pessoas estão convivendo muito bem. Mas os que já tinham um vínculo doentio, claro que acabaram piorando muito", afirmou o especialista.
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