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Retorno às aulas em meio a aumento de casos é temerário, avalia pediatra

Saúde

Retorno às aulas em meio a aumento de casos é temerário, avalia pediatra

Coordenador de pediatria do Instituto Couto Maia alerta para aumento de casos de síndrome em crianças expostas ao coronavírus

Retorno às aulas em meio a aumento de casos é temerário, avalia pediatra

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 19 de outubro de 2020 às 09:27

O médico pediatra, intensivista e coordenador de pediatria do Instituto Couto Maia, André Soledade, comentou o aumento de casos de coronavírus em crianças e os índices cada vez maiores de ocupação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) destinadas aos pacientes mais jovens. Em entrevista a Mário Kertész hoje (19), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele afirmou que as doenças infectocontagiosas deixaram de atingir crianças e adolescentes por conta do respeito ao isolamento social.

"O que a gente teve foi um aumento no número de casos de síndrome respiratória aguda grave nas crianças, não necessariamente são casos ligados a coronavírus. O que aconteceu no início da pandemia, em março, como todos ficaram em lockdown e o isolamento social foi levado mais a sério, as crianças ficaram protegidas das viroses que normalmente acometem as crianças no período da primavera e do outono", informou Soledade

Ainda segundo o médico, como o isolamento passou a ser relaxado, muitas crianças deram entrada com diagnóstico de coronavírus e outras viroses. "À medida que a pandemia evoluiu e as pessoas foram relaxando o isolamento social, as crianças foram tendo contato de novo com as viroses que habitualmente têm, dentre elas o coronavírus. A gente vem notando nos últimos dois meses, entre setembro e outubro, um aumento da taxa de ocupação dos leitos para crianças que chegam com desconforto respiratório, precisando de oxigênio e febre", declarou.

O pediatra também falou sobre a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, ocorrência registrada em crianças internadas nas pediatrias. Na avaliação de André Soledade, é possível identificar relação entre a infecção por coronavírus e o registro da síndrome. No entanto, ele ressalta que a ocorrência ainda baixa.

"Para dizer que essa síndrome é ligada ao Covid, é preciso ter os anticorpos contra o coronavírus identificados na criança, ou RT-PCR com o vírus, além de uma série de alterações inflamatórias que acometem pele, olhos, mucosas e, mais gravemente, o coração, sistema nervoso central e trato gastrointestinal. São quadros muito graves, tem crianças que já se apresentam com quadro de choque, hipotensão grave, diarreia e vômitos associados a essas outras alterações. Graças a Deus não é um quadro frequente, a  gente tem pego alguns pacientes com essa gravidade, mas é a minoria", disse o especialista.

Questionado sobre a volta às aulas, o médico foi enfático sobre o alto risco de se expor os mais jovens ao risco de contágio pelo coronavírus. A situação é ainda mais arriscada, segundo ele, quando se envolve estudantes da rede infantil. "Nem toda escola é igual e nem toda criança tem capacidade de aderir ao isolamento social, mesmo na escola. Acho que o ensino infantil, com crianças abaixo de sete anos ou oito anos não têm condição nenhuma de retornar. Elas não têm capacidade de manter a máscara o tempo todo, não ter contato com outros colegas e vice-versa", declarou.

"Já as crianças maiores, se a escola tem condições de manter menos alunos em classe, já na fase da adolescência quando são capazes de seguir regras, acho que cada cidade deveria ver o momento de voltar. Não tem que ser uniforme e igual para todo mundo. Agora, voltas às aulas no momento em que a gente está observando um aumento no número de casos eu acho temerário. Nesse momento, não há porque ter essa discussão", afirmou Soledade.