
Fala do presidente é inspiração para as cadeias
Para ser livre, vale tudo: enfrentar vírus ou tiro. Morre quem tiver que morrer. Ninguém esqueceu essa outra máxima do capitão

Foto: Reprodução Jornal da Metropole
Os presidiários brasileiros, cuja maior meta na vida, senão a única, é ter de volta a liberdade, devem ter ficado excitadíssimos, independentemente dos crimes que cometeram e do nível da própria periculosidade, com a defesa inconteste da tese defendida pelo presidente da República: mais importante do que a própria vida é, claro, a liberdade. Em tradução, para não deixar dúvidas: entre estar vivo e sem liberdade, o certo é arriscar a vida para ser livre. Estar morto, mas livre, é melhor, pura lógica, que estar vivo e preso. Fugir para a liberdade, por que não?
O presidente e o ministro invocaram essa tese para atacar o passaporte vacinal, exigido na maior parte dos países do mundo. Pouco importa que os governos e as autoridades de saúde que exigem passaporte vacinal para ingresso em suas fronteiras internacionais o façam em nome da defesa da vida, evitando riscos maiores de contaminação pelo vírus da COVID. Para o Brasil, são restritores de liberdade, e pronto.
Foda-se a vida, como antecipou a blogueira/influencer/good vibes lá atrás, no início da pandemia. O resto é rezar, em português ou pegando carona na glossolalia ou xenolalia da primeira dama da República e invocar o Espírito Santo para embaralhar a interpretação dos presos ou ensurdecê-los, evitando que captem a mensagem presidencial. A essa altura, se a filosofia presidencial ganha eco nas cadeias, está lá, agora, todo mundo elaborando um plano de fuga, menos preocupado com o risco de vida corrido - ah, o certo, agora, passou a ser risco de morte - e apostando com força na liberdade, o 1º mandamento da cadeia. Para ser livre, vale tudo: enfrentar vírus ou tiro. Morre quem tiver que morrer. Ninguém esqueceu essa outra máxima do capitão.
UM ÁUDIO DE MICHELE
Se nem o céu nem o inferno eram limites para a fala solta do presidente, agora é que ninguém segura mais sua língua. Nesta terça-feira, a revista Time anunciou que, por votação popular no site da publicação, Jair Bolsonaro foi eleito a personalidade do ano. A votação se dá no site da revista e qualquer pessoa no mundo pode votar, sem precisar ser assinante, nem mesmo leitor. Em sua live de quinta, Jair Bolsonaro pediu aos seus seguidores para votarem nele nessa eleição popular da revista.
Nove milhões de pessoas votaram em todo o mundo. O capitão foi o mais votado, com 24% do total de votos. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficou em 2º, com 9%, e os profissionais de saúde que cuidaram das vítimas da pandemia ficaram em 3º. Sim, os opositores de Bolsonaro e a esquerda já estão alardeando que ser escolhido a personalidade do ano por votação no site tanto pode significar destaque positivo como negativo. Ganha um áudio de Michele no WhatsApp quem apostar na tese de que os apoiadores do presidente não vão espalhar que ele é a personalidade mais importante do mundo. Mas, em tempo, embora o bolsonarismo não se importe: a definição da personalidade do ano da Time, a oficial, escolhida pelos editores da revista, é outra, e só será revelada no dia 13 deste mês.
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