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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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A invasão bárbara e o enfezado 

A invasão bárbara e o enfezado 

No Brasil, 2022 promete, em combustível para conflitos, ação de lunáticos, informação fraudulenta e, tomara que não, inspiração para vikings bolsonaristas

A invasão bárbara e o enfezado 

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 06 de janeiro de 2022 às 13:34

Há um ano, o mundo assistia, incrédulo, a uma manada de conspiracionistas invadindo o Capitólio, o Congresso dos Estados Unidos, o prédio considerado no ocidente o coração da democracia como a conhecemos. Aquele era o episódio político e social global que escancarava os dentes podres com o quais 2021 gargalharia de nós. Um ano depois, boa parte dos lunáticos foi presa ou indiciada pelo FBI. Em síntese, os invasores do Capitólio eram trumpistas inconformados com o que chamavam de the big lie, a grande mentira: a vitória eleitoral do democrata Joe Biden.

No Brasil, 2022 promete, em combustível para conflitos, ação de lunáticos, informação fraudulenta e, tomara que não, inspiração para vikings bolsonaristas. Para além de todo o estado de coisas que vem transformando o Brasil numa espiral de loucuras em looping, haverá as eleições de outubro. E se houver confusões, não terá sido por falta de ameaça. Quantas vezes em 2021 os brasileiros leram ou viram conspiradores ameaçando, inclusive ilustrados sob fumaça de tanques enferrujados, que não aceitariam resultados de urnas eletrônicas? Blefe ou distopia, que o futuro breve os desminta. Os americanos do norte sucumbiram todos ao FBI, mas com a Polícia Federal daqui craquelada como está, vai que…

No Brasil, 2022 deu as caras com o presidente da República começando o quarto ano do seu mandato emoldurado pelo que poderia haver de pior em simbolismo. Numa cama de hospital, com uma sonda nariz adentro e envolto parcialmente num cobertor de leito hospitalar que, nas fotografias, desenha um arco bastante acentuado sobre o abdômen. Na linguagem médica e na tal objetividade do jornalismo, Jair Bolsonaro foi ‘acometido de intensas dores abdominais causadas por uma obstrução intestinal’. Na linguagem das ruas, escatológica mas real e compreensível pelo senso comum, tudo soa como uma sátira real do Brasil. 

BOLO FECAL E VINGANÇA DAS VÍSCERAS 

Com problemas digestivos - para uns causados pelas sequelas da facada que levou durante a campanha eleitoral, em 2018; para outros, efeito colateral de um diagnóstico não revelado estrategicamente  mas sempre sabido; para os céticos, só o presidente sendo o presidente e encenando mais uma cena para a claque de apoiadores, mais um teatro da extrema direita populista -, Jair Bolsonaro comeu tudo o que viu pela frente nas férias barulhentas no litoral de Santa Catarina. Numa vingança das vísceras, não conseguiu colocar para fora um naco sequer do bolo fecal acumulado durante o lazer. 

Algumas pessoas, quando enfezadas ficam só de mau humor. Em outras, a impactação fecal causa dores na barriga (e não de). Sendo quem é e estando entupido, um presidente interrompe as férias de madrugada e manda o caixa do Palácio do Planalto providenciar transporte para a capital do estado, Florianópolis, e, de lá, avião para levá-lo a um hospital privado cinco estrelas em São Paulo. Simultaneamente, outro avião é acionado para trazer às pressas para São Paulo o médico que trata do funcionamento intestinal presidencial, então de férias nas Bahamas. Tudo isso somado, a impactação fecal do presidente deve ter ultrapassado o meio milhão de reais.

Assim, o ano já começa simbólico, com o presidente paralisado, cheio de m*^#¥ que se recusa a sair. A família recomeça, mais uma vez, a invocar a facada, o vitimismo, o risco, a vulnerabilidade do doente. E tudo acaba bem. As fezes despetrificam, sem precisar de cirurgia e a responsabilidade é do quê? De um prosaico camarão. Macho como é, Bolsonaro acha que mastigar o bicho é coisa de quem tem fraquejada, coisa que ele só cometeu uma vez na vida, quando um espermatozoide seu fecundou Michele e gerou uma menina. Ao degustar camarões, o presidente engole-os inteiros. Putrefato lá dentro, o bicho se recusou a sair, empedrando na podridão. Esse é o líder de um país que faz o mundo olhar pra baixo, para rir de nós.