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É PCC e Witzel, não Neymar

É PCC e Witzel, não Neymar

Confira a coluna de Malu Fontes no Jornal da Metrópole desta semana

É PCC e Witzel, não Neymar

Foto: Angeluci Figueiredo

Por: Malu Fontes no dia 03 de setembro de 2020 às 09:53

Na última edição de agosto, a revista Carta Capital trouxe na capa a imagem de Neymar, chorando, após a derrota do PSG para o Bayern, e tendo como chamada: Retrato do Brasil. O jogador era apontado como o símbolo de um país à deriva. Na primeira segunda-feira após a circulação da capa, houve duas operações jurídicas e policiais, no Rio e em São Paulo, que desbancam de longe as lágrimas de Neymar como a cara do Brasil.

Em uma associação entre corrupção deslavada, falta de raiz partidária, a tal nova política que promete honestidade e não sobrevive a dois anos num cargo executivo e colisão de frente com os interesses da família Bolsonaro em sua cozinha, o Rio, Wilson Witzel foi afastado, com uma canetadinha só, do cargo de governador.

No pacote do afastamento judicial, uma meia dúzia de auxiliares e cúmplices de Witzel foram presos. Destaque para a Jornalista, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, professora da Facom/UFBA e colaboradora da Rádio Metrópole COLUNA “Witzel ficará na história pela imagem da corridinha ao descer do helicóptero” prisão do pastor Everaldo, mentor do governador caído e presidente do partido que o elegeu, o PSC, aquele representado por um peixinho, símbolo religioso. A imagem mais famosa do pastor Everaldo, o 5º colocado no primeiro turno das eleições de 2014, é a dele vestido com um camisolão branco, dentro do rio Jordão, em Israel, batizando o presidente Bolsonaro. Everaldo batizou o presidente e Witzel e nessa temporada em que líderes religiosos têm migrado para as páginas policiais, deve estar convertendo almas erráticas no Complexo de Gericinó, para onde foi levado pela Polícia Federal

No mesmo dia em que Justiça e polícia desmanchavam o governo do Rio de Janeiro, há menos de uma semana de mais um tiroteio entre facções do tráfico que foi assunto no Brasil todo, em São Paulo e em mais 19 estados a polícia e a Justiça acordaram derrubando portas de mais de 600 pessoas, na maior operação da PF no país. O alvo eram os postos de comando do PCC, maior organização criminosa do país e à qual meio mundo se refere como espécie de terceira perna bamba da segurança pública paulista.

Nas entrelinhas, o que se especula é: o PSDB tocou os governos em São Paulo como tocou nas últimas décadas porque o PCC deixou, depois do aviso de maio de 2006, quando o grupo tocou o terror na capital, incendiando de ônibus a quartéis. Ou: em São Paulo, o crime é organizado. Atrapalha o mínimo o Estado, a burocracia entende o recado e assim Marcola e seu exército se vascularizaram, sem a histeria dos tiroteios corriqueiros que caracterizam as ações das trocentas mil facções do Rio.

Não foi porque Bolsonaro queria que Witzel, o ontem juiz honestíssimo e eleito com uma campanha ancorada no lema “a polícia vai mirar na cabecinha e... fogo”, foi tirado do cargo. Mas que um rompimento desse tipo ajuda a cair, é provável. O juiz Benedito Gonçalves derrubou o governador com uma caneta monocrática, mas sem apoio político de ninguém e ainda com desafetos poderosos, a queda plena em toda e qualquer instância daqui pra frente é tida como certa.

O governador do Rio deu sua contribuição, ao começar a gestão já brincando de copiar Sérgio Cabral, hoje com 300 anos de cadeia nas costas. Já na pandemia, fez desaparecer dinheiro público da saúde que deveria ser usado na Covid e nunca foi. Na sucessão de casos, seis, de governadores do Rio que passaram da política para a polícia, Witzel é aquele cuja imagem que ficará na história é a do corpanzil (sem gordofobia, problematizadores) na cena da corridinha ao descer do helicóptero para comemorar a morte de um sequestrador psicótico de ônibus alvejado por um atirador de elite.

E João Doria (PSDB) que se cuide em São Paulo. Se no meio dessas operações para minar o poder de ação e de lavagem de dinheiro do PCC aparecer algum nome do tucanato, Bolsonaro vai gargalhar no cercadinho. E das gargalhadas para a caneta de um magistrado amigo, é só um gesto. Está tudo misturado: política, religião, polícia, tráfico e milícia. Nem quando em choro e lágrimas o futebol é mais a cara do Brasil. Estamos mais para juízes evangélicos derrubados e para o poder das facções.