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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Hollywood não nos desampara

As portas se fecharam para Johnny Depp. Negociações foram interrompidas, projetos em andamento o excluíram. O cancelamento veio. Dele próprio e dos contratos. O ator, sempre tido em Hollywood como um típico bad boy, avaliou que era hora de reagir

Hollywood não nos desampara

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 05 de maio de 2022 às 09:32

Na Europa, Volodymyr Zelensky continua reivindicando ao mundo o lugar de herói contra o poderio bélico do russo Vladimir Putin, e a Ucrânia conta seus mortos há 70 dias. No Brasil, os habitantes do Twitter se dividem entre os que comemoram Lula na capa da Time e os que agora classificam a revista americana como a mais nova publicação comunista. Quem não aguenta mais guerra nem política vem sendo socorrido há duas semanas por Hollywood, que, mesmo combalida pelo streaming, não desamparou de todo os órfãos de um bom folhetim, desses com sexo, violência, milhões de dólares e cenas de embate de tribunal.  

Quem precisava de uma pipoca, tem no julgamento misturado com divórcio do ex-casal de atores Johnny Depp e Amber Heard um álibi e tanto. Não é filme, nem série, ainda. Mas é melhor que. Este texto é escrito no 14º dia da briga dos dois num tribunal, no condado de Fairfax, no estado da Virgínia, Estados Unidos. Depois de pouquinho mais de um ano oficialmente casados, os dois divorciaram-se, em maio de 2016. Há, portanto, seis anos que a relação saiu de casa e da cama para os processos e os tribunais, numa troca de acusações que foi se espiralando e ficando mais complexa que qualquer roteiro filmado por ele ou ela. 

Johnny Depp, famoso nas telas como Edward Mãos de Tesoura, Piratas do Caribe, Alice no País das Maravilhas, A Noiva-Cadáver etc, etc, foi acusado por Amber de violência física, psíquica e sexual. Segundo ela, o ex-marido a obrigava a fazer sexo oral enquanto ela era penetrada por garrafas. Essa é uma das acusações mais básicas. Exigiu-lhe uma pensão em milhares de dólares e uma indenização. Em 2018, quando a briga jurídica já esfriava, a atriz escreveu um artigo de opinião, desses assinados, publicado com destaque no The Washington Post, nos tons das denúncias que espocavam no movimento MeToo, narrando a violência doméstica da qual fora vítima. Não citava o nome de Depp. Mas não precisava. Era ele o alvo das denúncias que ela fazia, e Hollywood queria sangue dos homens brancos, héteros, violentos, machistas. 

As portas se fecharam para Johnny Depp. Negociações foram interrompidas, projetos em andamento o excluíram. O cancelamento veio. Dele próprio e dos contratos. O ator, sempre tido em Hollywood como um típico bad boy, avaliou que era hora de reagir. Apontou a artilharia jurídica para a ex-mulher, contratou advogados, psiquiatras e psicólogos forenses, testemunhas, amigos, conhecidos, empregados, influenciadores digitais e exigiu uma indenização de 50 milhões de dólares por difamação. É sobre esse julgamento e sobre os detalhes da vida do ex-casal que falam nos últimos dias os jornais europeus e americanos, em páginas e páginas, links a perder de vista. 

E são exatamente os detalhes que tornam o caso todo cinematográfico. Depp é apontado como tendo contratado os melhores produtores de conteúdo de cada rede social para produzir e disseminar vídeos onde ele mesmo aparece argumentando, narrando episódios, com direito a fundo musical específico para cada tema ou rede, figurino certo para cada assunto e, claro, como se espera de um bom ator, representação à altura. 

Elon Musk não foi depor 


Amber parece ter sentido o golpe da inversão da acusação. Sim, Depp diz que a violenta, a agressora, a descontrolada, a opressora, a portadora de transtorno era ela. Ele? Foi violento, sim, mas reativo, e com palavras, descontrolado pela bebida. Nunca a teria agredido, diz que vai provar e quer ser indenizado pela acusação, que considera injusta, e pelos contratos perdidos, pelo abalo na carreira. Amber solicitou à justiça o arquivamento do processo contra ela, o que a juíza do caso negou. O argumento da negação foi o de que há provas suficientes das acusações do ator para a inversão da culpa. 

Num dos depoimentos, Depp contou que em uma das vezes foi esmiuçar o lixo do banheiro e comprovou a encenação. O sangue do nariz e das agressões que ela disse ter sofrido era esmalte vermelho derramado em algodão. Alega ter ficado muito perto de perder um dedo. A ex-mulher quebrou uma garrafa sobre um anel. O metal do acessório e o corte pelo vidro quase o teriam mutilado. A ver, nos autos.

Pelo menos um constrangimento o capítulo dos cosméticos citados no tribunal já gerou. Após Amber contar que numa determinada circunstância estava com a cara roxa e usou um determinado produto corretivo como skin care para disfarçar, foi desmentida. A marca, dessas estreladas, veio a público negar: na época em que a suposta agressão teria acontecido, o produto nem havia sido lançado. Mas estava nos autos, inserido pela advogada. O desfecho do caso ainda não se deu, mas já se sabe que a ausência de um depoente fez e fará muita falta ao evento: Elon Musk, ex-marido de Amber, arrolado por ela como testemunha de sua personalidade tranquila, não borderline, não pareceu. Mr. Musk alegou compromissos para não depor a favor da ex. Detalhe: Depp insinuou que o doador de esperma da barriga de aluguel de Amber é o trilionário, embora a criança tenha apenas o nome da mãe no registro.

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