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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Uma ópera bufa em três datas 

Uma ópera bufa em três datas 

Essa é a inspiração de Jair Bolsonaro e seus filhos: macaquear Trump e copiar a tese de roubo de votos

Uma ópera bufa em três datas 

Foto: Reprodução - Jornal da Metropole

Por: Malu Fontes no dia 21 de julho de 2022 às 09:16

Três datas não inseridas no power point sofrível apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro às dezenas de embaixadores ‘convocados’ ao Palácio do Alvorada na última segunda-feira não saem da cabeça dos ideólogos do evento: sete de setembro, dois de outubro e seis de janeiro. A principal e mais óbvia delas é dois de outubro, data do primeiro turno das eleições. Tudo mundo que estava lá ou leu a respeito dos 50 minutos de fala do presidente entendeu as intenções do encontro. O objetivo foi anunciar ao mundo que tudo será feito para melar as eleições ou para anular os números que saírem das urnas no final do dia. 

A segunda, por anteceder a primeira, é o sete de setembro desse ano. Em 2021 já não foram poucas as confusões plantadas pelos entusiastas do presidente nas principais capitais brasileiras, a pretexto de demonstração do apoio incondicional. As cenas mais significativas aconteceram em São Paulo. Do alto de um caminhão de som e registrado em imagens trêmulas que se espalhavam pelas redes, Bolsonaro repetia o discurso bate-estaca: o Supremo Tribunal Federal impede a liberdade, os ministros são opositores ao desejo do povo e os mantras de sempre, como homens de bem, mais armas e luta contra o comunismo que ameaça destruir a família, a crença em Deus e a liberdade. 

No próximo feriado da independência, o bolsonarismo não irá às ruas para hipotecar apoio ideológico ao presidente. Irá para um ato de campanha, não só para hipotecar o voto e nem mesmo para pedir mais votos a arrependidos ou a indecisos. Presidente, filhos e líderes da cozinha do poder irão às ruas dispostos a tudo para, paradoxalmente, desmoralizar as eleições e fortalecer o roteiro apresentado na burlesca reunião com os embaixadores, cuja tese é a de que o sistema eleitoral brasileiro é inseguro e fraudável. A tensão política levada para as ruas no dia ameaça apagar boa parte do simbolismo dos 200 anos de independência de Portugal e apresentar um bom plus de caos e violência, nos aspectos discursivos e físicos.

Covers do Capitólio 

A terceira data é o seis de janeiro de 2021, o dia em que os Estados Unidos, o país mais rico e influente do mundo, reconhecido como referência da democracia e do respeito aos direitos e à liberdade, foi palco de cenas tão improváveis quanto toscas, protagonizadas pela extrema direita terraplanista com o objetivo de negar a eleição de Joe Biden e manter o derrotado Trump no cargo. Em poucas palavras, seis de janeiro é a data em que a democracia mais sólida do mundo foi sacudida por um grupo de crentes em teorias da conspiração que tentaram dar um golpe de estado com o apoio do presidente derrotado batendo o pé para não sair do cargo.

Essa é a inspiração de Jair Bolsonaro e seus filhos com mandato: macaquear Trump e copiar a tese de roubo de votos. Aqui, a arapuca vem se montando desde que a primeira família começou a repetir a tese da urna eletrônica falível e insegura. É bom não esquecer que os militares daqui, diferentemente dos de lá, estão do lado dos invasores do Congresso de lá. Se não estivessem, o ministro da defesa brasileiro não estaria presente em um evento em que o presidente da República afirma a cerca de 40 embaixadores que o sistema que o elegeu é fraudável. Quem defendeu o sistema eleitoral brasileiro após a ópera bufa de 18 de julho não foram as Forças Armadas, mas as nações estrangeiras, em comunicados afirmando que o voto eletrônico brasileiro é uma referência para o mundo, uma joia da democracia internacional.