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Neymar compra crime ambiental por R$ 16 milhões

Neymar compra crime ambiental por R$ 16 milhões

Fico me perguntando quem pode pagar para destruir um pedaço do Cerrrado

Neymar compra crime ambiental por R$ 16 milhões

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 06 de julho de 2023 às 09:04

Um dos maiores desafios das democracias liberais é não se deixarem perverter e anular pelo poderio econômico que alguns conseguem acumular. Mas o fato é que, com muito dinheiro, algumas figuras conseguem se colocar acima e por fora das leis. Lembro sempre do caso de Thor Batista, que atropelou e matou com sua Mercedes-Benz SLR McLaren prata um ciclista no Rio de Janeiro, e o julgamento só faltou ressuscitar para poder culpar e punir o próprio ciclista. O desfecho soou ao senso comum como mais um caso em que a fortuna serviu como mecanismo de injustiça. Dessa vez, leio a notícia de que Neymar Jr. foi multado em R$16.010.000 por causa das obras de criação de um lago artificial em uma casa no Condomínio AeroRural, em Mangaratiba, na Costa Verde do mesmo Rio de Janeiro. O jogador cometeu uma série de infrações ambientais, inclusive movimentação de terra sem a devida autorização, supressão de vegetação e até uso indevido da água de um rio.

Diante da pena aplicada, fiquei com a sensação de que Neymar, que tem um salário de 55 milhões de dólares (R$306,4 milhões) por ano, comprou o crime ambiental (incluindo o lago artificial) pela bagatela de R$16 milhões. Longe de mim querer encarcerar todo mundo por qualquer crime, mas esse é o perigo das punições por multa: quem pode pagar, pode cometer. Isto é, existem leis que só se aplicam a quem não tem grana para bancar. Há inclusive exemplos interessantes, para mim simpáticos, como o da censura à música “Bichos Escrotos”, dos Titãs, cuja execução em rádios e tevês se deu mediante o pagamento das multas. Assim como o dos tênis Air Jordan, cujos lucros bancaram de sobra as multas impostas pela NBA pela infração da política de cores.

No caso de Neymar, porém, estamos falando de crime ambiental. Fico me perguntando quem pode pagar para destruir um pedaço do Cerrado. Uma fatia da Chapada Diamantina. Elon Musk poderia mandar para o espaço a floresta amazônica se a pena for uma multa? De quanto seria? Com meu poder aquisitivo, o máximo que posso é deixar de cumprir o democrático voto obrigatório. A multa é mais barata que as passagens de ônibus. Mas o ônibus, na última eleição, foi de graça. Tudo questão de interesse. Democrático.

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