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Mãe Stella de Oxóssi - 100 anos de uma vanguardista

Mãe Stella de Oxóssi - 100 anos de uma vanguardista

O fato é que nós, baianos, sempre fomos vanguardistas e estou falando isso para evocar uma ialorixá de espírito inquieto que completaria 100 anos no último dia 2 de maio: Maria Stella de Azevedo Santos

Mãe Stella de Oxóssi - 100 anos de uma vanguardista

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 08 de maio de 2025 às 06:41

A Bahia costuma ser lembrada quase que exclusivamente por seu lado tradicional ("terra-mãe do Brasil"), quase nunca pelo que tem de vanguarda. Mas, o fato é que sempre fomos vanguardistas. E quando digo isso não me refiro apenas ao áureo período de implantação das escolas artísticas fundadas na Universidade da Bahia pelo magnífico reitor Edgard Santos. Não. O nosso ímpeto inventivo, desbravador, sempre esteve vivo nas ruas, no cotidiano das praias e dos quintais. Por exemplo, o candomblé. Claro que há a importância da preservação perpetrada nos terreiros, mas uma análise mais acurada mostra como a estética das religiões de matriz africana pode ser facilmente vinculada às vanguardas históricas: minimalismo, geometrismo etc. E estou falando isso tudo para evocar uma ialorixá de espírito inquieto que completaria 100 anos no último dia 2 de maio: Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi.

"A princípio, eu não queria muito o tombamento [do Ilê Axé Opô Afonjá] porque... sabe aquele negócio de tombamento? Quando eu era garota, ouvia dizer: a Igreja de São Bento tombada, então chegou D. [Timóteo] Amoroso, ele era inovador, que é que ele fez? Ele foi, tirou os santos, mudou o altar, o Patrimônio chegou lá e mandou botar tudo no lugar! (risos) Ele botou. Então, não gostaria. Gosto de um movimento de vez em quando. A coisa que fica inerte, estática, não evolui. Tem que mexer. Inclusive por causa da energia, você mexe aqui, tira a energia negativa". Bastariam essas palavras para ilustrar o que defendi acima. Mas tem mais.

Em 1983, Mãe Stella lançou o manifesto "Iansã não é Santa Bárbara", batendo de frente contra o tão louvado sincretismo baiano. Vanguarda. E, mais recentemente, em 2016, lançou sementes do que pode vir a ser uma mudança profunda na própria ritualística de sua religião ao conclamar: "Meus filhos serão orientados a oferendar Iemanjá com harmoniosos cânticos. Quem for consciente e corajoso entenderá que os ritos podem e devem ser adaptados às transformações do planeta e da sociedade".

Por essas e outras, a presença viva, vivaz e vanguardista de Mãe Stella de Oxóssi se faz tão necessária entre nós. E devemos aproveitar a ocasião do centenário para fortalecer o movimento. Okê Arô! 

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