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Gaga, memificação e bolsonarismo

Gaga, memificação e bolsonarismo

Prefeitura de Salvador, Ministério da Saúde, celebridades, o lulismo e o bolsonarismo tiraram lasquinhas da diva pop para gerar engajamento

Gaga, memificação e bolsonarismo

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 08 de maio de 2025 às 06:38

O show foi no Rio e todo mundo sabe o que a presença de uma estrela pop da dimensão de Lady Gaga na cidade faz na avaliação de um prefeito como Eduardo Paes, já tido como um dos gestores mais boas-praças do País. Mas não foi só ele quem surfou no fluxo do show e dos números estratosféricos na praia de Copacabana. A Prefeitura de Salvador, o Ministério da Saúde, milhares de artistas, celebridades, subs, o lulismo e o bolsonarismo abusaram da estratégia de tirar lasquinhas da diva pop para gerar engajamento nas redes. As contas oficiais da Prefeitura de Salvador e do Ministério da Saúde fizeram isso explicitamente. 

A gente se acostuma cada dia mais com a memificação da política, artifício usado até mesmo por instituições mais sisudas, como o Supremo Tribunal Federal e o Banco Central do Brasil. Recentemente, o STF fez até parceria com o humorístico Porta dos Fundos para produzir conteúdo memificado e, na crise enfrentada pelo governo diante da tal tributação das operações via Pix, a conta do Banco Central nas redes parecia ter sido hackeada, devido à estética tosca-trash usada para, supostamente, falar para um público mais jovem e mais amplo. 

Camisa vermelha e diabo

A presença de Gaga no Brasil foi explorada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, usando gírias e a expressão “little monsters”, como os fãs da cantora são chamados, para promover o SUS, a vacinação contra a hepatite A e a gratuidade do acesso a políticas públicas de saúde no campo da sexualidade. Em vídeos no TikTok, Padilha usou vídeos e músicas da cantora. Ainda no campo político, foi travada uma batalha de informações enviesadas e falsas construídas a partir do uso da bandeira brasileira no palco e dos figurinos do show, incluindo peças verdes, amarelas e azuis. 

Numa semana em que se travou uma guerra de versões sobre a mudança de cor da camisa da seleção brasileira para o vermelho, em dois tempos parte do bolsonarismo começou a festejar Lady Gaga contra Madonna, a transformou em aliada e tagueou nas legendas: nossa bandeira jamais será vermelha. Outra parte demonizou, associando-a a seitas diabólicas e à sexualidade antifamília. 

As marcas não fizeram menos na exploração da presença da cantora no Rio. Embora fossem proibidas de citá-la nominalmente ou usar sua imagem, dezenas delas memificaram símbolos, gestos, metáforas, nome de canções e expressões dos fandoms e fizeram peças publicitárias com referências quase explícitas. Todo mundo no Rio não foi apenas uma frase de efeito. Foi quase literal.

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