
O homem que queria ser rei (ou governador, presidente, papa, deus...)
Quantos cidadãos que vieram dos segmentos mais baixos da sociedade, seja iniciando carreira, por exemplo, nas forças armadas ou no chão da fábrica, alcançaram por sorte ou circunstâncias conjunturais, o poder em estados, regiões e países?

Foto: Reprodução
Uma excelente e sempre atual história sobre como o poder é volátil e pode subir à cabeça da mais humilde criatura está presente no livro “O homem que queria ser rei”, de Rudyard Kipling, popularizado na adaptação para o cinema (por John Huston) em filme de título homônimo. É a história de dois malandros aventureiros, Daniel Dravot (Sean Connery) e Peachy Carnehan (Michael Caine), ex-soldados do exército britânico que, em meados do século XIX, empreendem longa jornada até o remoto Kafiristão, situado após as geladas montanhas do Afeganistão. O objetivo dos sabichões é conquistar e submeter os povos da região, que viviam isolados do resto do mundo, para se apossar de suas riquezas.
Como nos processos de colonização, os dois levam armas de fogo avançadas, desconhecidas pelos nativos e, rapidamente, passam a dominar os pequenos reinos do Kafiristão. Para completar, numa das batalhas, Dravot recebe uma flechada no peito que atinge um artefato de sua indumentária, evitando o ferimento. Os povos em luta param de se matar e interpretam o episódio como uma prova de que o aventureiro é, na verdade, um deus, aquele que, em algumas religiões, é sempre esperado como salvador da pátria.
Como nos processos de colonização, os dois levam armas de fogo avançadas, desconhecidas pelos nativos e, rapidamente, passam a dominar os pequenos reinos do Kafiristão. Para completar, numa das batalhas, Dravot recebe uma flechada no peito que atinge um artefato de sua indumentária, evitando o ferimento. Os povos em luta param de se matar e interpretam o episódio como uma prova de que o aventureiro é, na verdade, um deus, aquele que, em algumas religiões, é sempre esperado como salvador da pátria.
Mas, como “mentira é sempre vencida”, Dravot acaba sendo desmascarado e apeado do poder. Isso não parece a repetição da política dos dias de hoje? Quantos cidadãos que vieram dos segmentos mais baixos da sociedade, seja iniciando carreira, por exemplo, nas forças armadas ou no chão da fábrica, alcançaram por sorte ou circunstâncias conjunturais, o poder em estados, regiões e países? Prometeram oportunidade, igualdade e fartura para todos, como os porcos do livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, mas se embriagaram pelo poder e formaram uma elite deixando a patuleia de fora da repartição do bolo?
E a roda da política vai girando: em passado recente ex-sindicalistas que viraram governantes, se chafurdaram na lama da corrupção, foram parar na cadeia, mas a roda girou (afinal o Brasil é o país da impunidade) e eles voltaram ao poder. Por outro lado, o grupo oriundo da caserna, que havia ascendido na política, com a queda dos rivais, passam a ditar as regras, querendo até mudar as leis na natureza negando a ciência. E mais: almejando perpetuar-se no poder. Todos, de capitão a general, foram presos. Espera-se agora o que vai ocorrer no próximo giro da roda da política. Quanto tempo durará essas prisões? Surgirão novos Daniel Dravot e Peachy Carnehan? No Brasil tudo é possível.
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