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Pouco dendê e muita violência

Pouco dendê e muita violência

Lá pelos idos de 1930, o genial Dorival Caymmi cantou, numa rara e esquecida música de carnaval, que "A Bahia também dá". Hoje em dia, só se for desgosto...

Pouco dendê e muita violência

Foto: Metro1

Por: James Martins no dia 07 de setembro de 2023 às 20:00

Essa semana começou quente na cidade, com os traficantes do Comando Vermelho cumprindo o que alardearam sem o menor pudor e partindo para tomar as regiões do Alto das Pombas e do Calabar do domínio do Bonde do Maluco, a facção local de tráfico de drogas. Tiros, tiros e mais tiros. “Surra de tiros”, pra adaptar a linguagem digital de que o marketing político gosta tanto de se apropriar em suas propagandas de orgulho ufanista.

Enquanto famílias e famílias, já habituadas a viver em tensão constante, curtiram momentos de desespero escancarado na cidade que faz um novo carnaval a cada semana. Os tiros, dessa vez, atingiram até mesmo um apartamento no elegante e tradicional bairro da Graça.

O contexto da guerra, que avança em todo o estado, ainda não foi devidamente aprofundado, mas me parece curioso que um dos bairros chave desta mais recente batalha (se preparem, pois virão muitas outras) se chame Calabar — o nome daquele latifundiário mameluco que optou trocar o domínio português pelo holandês diante do Brasil colônia. Já os moradores dos locais dominados pela bandidagem não têm opção. É dar ou cair, como diz a voz das ruas.

Enquanto isso, chegam aqui notícias também da Guerra do Dendê, no Pará, que tem semelhanças com a disputa territorial que vitimou recentemente Mãe Bernadete em nosso estado.

Mas, além do drama envolvido, me chamou atenção novamente a queda de produção em nossa terra. Pois a pendenga de lá repercute tanto aqui (com carestia e escassez do sagrado azeite para moquecas, acarajés e afins) porque a nossa produção é ínfima e as baianas com seus tabuleiros dependem que o dendê venha do Pará para cá. O fato é que a Bahia não produz mais quase nada. Até as nossas fitinhas do Bonfim são feitas em São Paulo. Donde vem também a maior parte do sal que a gente consome diante de um litoral deste tamanho. E assim por diante.

Não é por acaso que estamos importando até mesmo bandidos do Rio de Janeiro. E veja-se que Salvador, de acordo com censo do IBGE, foi a cidade que mais perdeu população no país nos últimos 12 anos. Tenho um primo que engrossou esta estatística: foi atrás de trabalho no Rio. Está lá produzindo. No lugar dele, temos um bandido carioca matando e morrendo por aqui.

Lá pelos idos de 1930, o genial Dorival Caymmi cantou, numa rara e esquecida música de carnaval, que “A Bahia também dá”. Hoje em dia, só se for desgosto...