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A canção e a traição de Luísa: Chico quem?

A canção e a traição de Luísa: Chico quem?

Sempre dá preguiça de apresentar personagens, mas, na montanha-russa das redes e na vertigem do sucesso, dos tribunais e do justiçamento nelas, todo dia é preciso abrir apostos nos textos para apresentar gente nova que desaparece no dia seguinte

A canção e a traição de Luísa: Chico quem?

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 21 de setembro de 2023 às 00:00

O looping da vida em 2023. Um país, a Líbia, por pouco não é varrido do mapa. São, até aqui, cerca de 12 mil mortos e outro número quase igual de desaparecidos. Os desabrigados e sem um documento restante na mão na tragédia no Rio Grande do Sul. Blindados chegando a Salvador para conter os focos de invasão de facções do tráfico em diversos bairros da capital. Acorda-se com as manchetes dos veículos tradicionais sobre o discurso de Lula na ONU. Mas isso tudo parece ter zero importância narrativa a partir do momento em que a cantora da semana, Luísa Sonza, leva a rainha das manhãs da televisão brasileira, Ana Maria Braga, a se derramar em lágrimas, comovida após a moça ler uma carta de traição escrita para um tal que, 24 horas antes, era um muso nacional, o inspirador da vez da Bossa Nova reloaded.

Sempre dá preguiça de apresentar personagens, mas, na montanha-russa das redes e na vertigem do sucesso, dos tribunais e do justiçamento nelas, todo dia é preciso abrir apostos nos textos para apresentar gente nova que desaparece no dia seguinte. A personagem do dia é Chico Moedas, um garoto de 26 anos, de cabelo descolorido e transformado em muso inspirador pela namorada, Luísa, ao compor e gravar uma canção-declaração de amor que quebrou recordes no Spotify e convocou artistas da música de todas as idades para se pronunciar se aquilo era ou não era Bossa Nova. A maioria disse que sim, tudo divino, maravilhoso. 

A obra é “Chico”, o hit máximo do álbum novíssimo de Luísa, lançado agora em agosto. Nesta quarta-feira, Ana Maria Braga e o mundo ficaram sabendo que a história romântica de Luísa e Chico Moedas, com esse nome em referência a transações do moço com bitcoins, não era amor coisa nenhuma. Era cilada. E meio sujinha. Aos prantos, a menina disse que foi traída pelo namorado no banheiro sujo de um bar onde estavam juntos. Nas próximas horas vão entrar em cena a definição de bar, de banheiro e de banheiro sujo. E a antagonista da traição, óbvio, o único assunto de interesse nacional do brasileiro terraplanista. A maioria, com todo o respeito. 

Marketing, Deus, Whindersson e Juliette

Já são muitas as subteses abertas com a emergência dessa tragédia brasileira. Chico traiu Luísa porque ela era uma namorada opressora?, pergunta um X-user, o ex-tuiteiro. Esse é um caso de irresponsabilidade afetiva? É só mais um caso de que o homem hétero cis normativo deve ser extinto? É tudo criação, golpe de marketing, para “Chico”, a canção, hitar ainda mais na plataforma? E o leque temático não para aí: ‘por que o choro de Luísa comove mais que a morte de Heloísa (a menina morta por tiros pela Polícia Rodoviária Federal do Rio de Janeiro)? É a pergunta de um perfil buscando engajamento. E vai conseguir, óbvio. Outra aposta é a de que seria uma estratégia da assessoria de imprensa de Luísa para comover o público e assim quem sabe param de chamá-la de racista.

Deus também foi escalado, apontado como o responsável pela traição. Deus é justo e indeniza e, portanto, todo mundo vai sofrer nessa bagaça, como Whindersson Nunes, ex-marido de Luísa, um dia sofreu. Chico? Como influencer que é, nativo de rede, foi covarde. Horas depois de Ana Maria pedir a seu público que não fizesse perguntas a Luísa, mas a ele, o rapaz fechou a conta. O mundo paralelo das redes quer o endereço e imagens do bar e do banheiro, imagens da ‘outra’, que não teve aulas de sororidade. Chico, com sorte, dividirá os trends com Juliette, a musa do BBB, que resolveu convidar o povo de Porto Alegre a comparecer em massa a seu show na cidade, no início de outubro. O nome do show: Ciclone. Chamar um show de Ciclone, no Rio Grande do Sul, só pode ter sido ideia de algum gerenciador de crise de Chico Moedas, para arrastar de si a onda de cancelamento, ou, para, ao menos, ter com quem dividir o assento no tribunal do justiçamento on-line do dia.