A divisão entre esquerda e direita mudou de nome

As eleições para prefeito serão um laboratório, guardadas as diferenças entre a eleição de caráter municipal e a eleição nacional que vai acontecer em 2026. Nós teremos uma espécie de laboratório sobre a atuação da extrema-direita, sobretudo, nas plataformas digitais. As eleições municipais sempre apontam caminhos, dizem para onde o vento está soprando e ajudam a projetar as eleições nacionais dois anos depois.

Quero destacar um aspecto importante, inclusive da entrevista do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, ao jornal O Globo, ele diz que a regulação - usando a palavra regulamentação das plataformas - das redes sociais, será uma bandeira de 2024 do TSE no primeiro semestre de 2024.

A ministra Carmen Lúcia, também no TSE, está encarregada da definição de algumas regras e tem se manifestado nesse sentido. Precisamos ter essa regulação, porque já vimos o poder que o uso dessa tecnologia tem nos processos eleitorais no Brasil. Esse é um aspecto bastante preocupante para esse cenário a curto prazo.

Outra coisa muito importante é quando a gente olha o cenário aqui nas Américas. Temos o Jair Bolsonaro inelegível, isso é importante, mas ele é um cabo eleitoral de peso e precisamos reconhecer isso. A eleição do Javier Milei na Argentina também é um aspecto para ser avaliado. E nos Estados Unidos a possibilidade do Donald Trump ser candidato pelo Partido Republicano. Ele tem sofrido alguns reveses em tribunais estaduais, há uma tentativa de tribunais nos Estados Unidos impedir a participação dele nas primárias, mas ele levou a questão para Suprema Corte e todo o processo eleitoral dos Estados Unidos vai depender, em última instância, de uma decisão da Suprema Corte americana.

Olha a complexidade política neste hemisfério, nas Américas, envolvendo os países de maior peso econômico e de maior peso político. De fato, temos um cenário bastante desafiador. E não sinto a mídia brasileira comprometida com a democracia. Esse compromisso não é claro, não é explícito.

Nós temos uma sociedade que não está dividida em esquerda ou direita, eu faria outra classificação, nós temos uma sociedade em que parte está comprometida com a democracia, com seus fundamentos mínimos, com o respeito institucional e outra parcela relevante da sociedade não tem o menor compromisso com a democracia, isso de fato é bastante preocupante e desafiador.

*A análise foi feita pela jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às sextas-feiras