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Por que a Bahia não comemorou os 90 anos vivos de Juarez Paraíso?

Por que a Bahia não comemorou os 90 anos vivos de Juarez Paraíso?

Proponho aos pintores, escultores, poetas, atores e enxadristas locais que aprendam a cantar e façam projetos que envolvam subir no palco e remexer o bumbum para ver se chamam a atenção de alguém

Por que a Bahia não comemorou os 90 anos vivos de Juarez Paraíso?

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 05 de setembro de 2024 às 00:28

A Bahia não comemorou os 90 anos vivos de Juarez Paraíso, que fez aniversário anteontem, dia 3 de setembro. Ele é, com certeza, em sua área, o mais importante artista do estado e um dos maiores do país — nesse tempo e em outros tempos. Mas a Bahia anda desleixada com o que importa. Como eu já disse anteriormente: a Bahia gera, mas não gere. As administrações culturais só parecem interessadas em promover shows e festinhas. Inclusive, proponho aos pintores, escultores, poetas, atores e enxadristas locais que aprendam a cantar e façam projetos que envolvam subir no palco e remexer o bumbum para ver se chamam a atenção de alguém. Talvez Juarez, que já fez memoráveis decorações do carnaval, fosse lembrado se se apresentasse como astro do axé. Do axé, não, que tá fora de moda: da sofrência. Juarez Paraíso, a quem Jorge Amado classificou como “solidário/solitário” e que é um polímata das linguagens visuais. Excelente em todas elas: da xilo à escultura, do desenho de gibi à ambientação.

Citei Jorge Amado de propósito, pois, quando o escritor fez 80 anos, houve uma grande festa na cidade. Claro que sei que Jorge era muito mais popular, mas o que isso importa? Uma festa, incluindo atividades diversas, seria também uma forma de indenizar o artista pelas imensas tristezas que Salvador certamente o infligiu ao destruir ou deixar destruir muitas de suas obras, como o calçadão da Praça da Sé, uma beleza em pedra portuguesa, o deslumbrante ambiente do Cine Tupy, os murais nos extintos Cines Art 1 e 2, outro no Cine Bahia etc etc etc. Porém, nem mesmo a Universidade Federal da Bahia (Ufba), donde ele é professor emérito aposentado, se coçou para cumprir o dever educativo cultural a que se destina.

Reclamei recentemente do silêncio em torno aos 110 anos de Dorival Caymmi e ao centenário do sambista Batatinha. Porém, a omissão diante dos 90 anos de Juarez Paraíso é um inferno ainda pior, pois o homem está vivo. E há um depoimento dele, por ocasião da terceira Bienal da Bahia (ele que organizou as duas primeiras), repetindo o que já é clichê mas não custa lembrar: “homenagens devem ser feitas em vida”. Perdemos mais uma oportunidade. Parabéns para nós, nesta terra infeliz.

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