Moraes e Musk: um herói para chamar de seu
O bloqueio de Moraes imposto ao X e à Starlink é reduzido a mero autoritarismo do Supremo Tribunal Federal
Foto: Reprodução
O bloqueio do X no Brasil, determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, elevou em muitas camadas a demonização e a heroificação dos personagens envolvidos: o próprio ministro e seu antagonista, o bilionário sul-africano Elon Musk. Dependendo de que lado do espectro político e ideológico se esteja, aos dois são aplicadas a mesma condição, com os sinais trocados. O espectro conservador, reacionário ou bolsonarista ignora o comportamento de dois pesos e duas medidas adotado por Musk em países como a China, a Índia e a Rússia e atribui a Moraes a condição de ditador.
Do lado progressista, se aplaude em uníssono o heroísmo de Moraes, visto como o juiz que impõe limites aos caprichos infantiloides de um rico excêntrico que vê parte do mundo como via o Grande Ditador, o filme e o personagem de Charles Chaplin: uma bolinha para brincar, até mesmo com os glúteos. Em outros países do mundo, incluindo a União Europeia, Musk aceita candidamente todas as regras legais impostas para o funcionamento do X. Sobre a China proibir complemente a existência da rede, nenhuma palavra, nenhuma reação.
Brasil como laboratório
Seguem firmes as parcerias comerciais com o governo comunista. O país é um dos mercados prioritários dos carros elétricos da Tesla, do conglomerado Musk,l e da SpaceX. Há quem sustente que as provocações do magnata ao Judiciário brasileiro são um laboratório para testar as formas de atuação em democracias mais amplas e de economia mais robusta. Estica-se a corda de abusos, de violação a regras e de reações radicais no Brasil e, no limite, qualquer avanço que se consiga aqui será testado com mais delicadeza em alguns países do mundo onde não existem ditaduras.
A direita brasileira, no entanto, não comunga dessa tese e faz vista grossa aos excessos de Musk. O bloqueio de Moraes imposto ao X e à Starlink é reduzido a mero autoritarismo do Supremo Tribunal Federal, onde Moraes é o togado mais malvado. Já Musk, um perseguido corajoso que paga o preço de ser espreitado por um ditador e, assim, ajuda a direita a denunciar ao mundo que o Brasil está decretando a morte da liberdade de expressão. Ambos são, simultaneamente, heróis e carrasco. Depende da caixa de onde se olha.
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