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Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

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Caetano e Bethânia e a ilusão do tempo

Caetano e Bethânia e a ilusão do tempo

Caetano, Bethânia e Gilberto Gil são o trio afetivo indiscutível da história da música baiana da segunda metade do século passado para cá

Caetano e Bethânia e a ilusão do tempo

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 28 de novembro de 2024 às 00:43

Neste sábado, quem for à Fonte Nova ver Maria Bethânia e Caetano Veloso pela primeira vez juntos, em um show dessa magnitude, em Salvador, provavelmente construirá um dos mais bonitos e inesquecíveis registros musicais na memória. Inúmeros ídolos nacionais e internacionais já passaram por shows apoteóticos na cidade, mas artistas com a trajetória, as décadas de produção e carreira e o vínculo afetivo com a Bahia na dimensão de Caetano, Bethânia (e Gilberto Gil), não há. 

Eles são o trio afetivo indiscutível da história da música baiana da segunda metade do século passado para cá. Seis décadas de carreira, repertórios colossais e um protagonismo no cenário musical brasileiro que atravessou um século, da década de 60 do século passado à terceira década do século XXI, sem que nunca tenham experimentado o ostracismo, fazem do show dos irmãos de Santo Amaro um desses eventos que merecem um carimbo afetivo do tipo “eu fui, eu estava lá”. 

Deus desapegado e Canô

Embora um show extra tenha sido anunciado para o dia 8 de fevereiro, o show deste sábado promete ser incomparável. Não se trata apenas da performance dos dois no evento, mas do que eles representam para a plateia de Salvador. Nenhum artista é unanimidade, claro. Mas para o público que estará sábado no show, com ingressos comprados desde março, numa via-crúcis on-line que frustrou milhares que não conseguiram adquiri-los, Caetano e Bethânia estão além da condição de cantores e ídolos populares. São entidades criadoras da trilha sonora não apenas da vida afetiva e subjetiva de muita gente, mas também da trilha da trajetória política brasileira, verbetes da canção e da poesia brasileiras. 

Se Bob Dylan ganhou um Prêmio Nobel de Literatura por suas letras, Caetano, como letrista, é o nosso equivalente de gênio literário da canção. Quem já viu Bethânia num palco tem dificuldade em identificar quantas divas brasileiras são intérpretes tão singulares quanto ela, seja cantando ou ‘dizendo’ Fernando Pessoa. Pena que Deus é desapegado e tem como método fazer da vida humana uma experiência tão breve, diante da ilusão infinita do tempo: Dona Canô merecia muito ver o tamanho e a beleza dos seus filhos refletidos nos olhos de quem vai se emocionar com eles num sábado de novembro de 2024 em Salvador.