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Uma queda sem justificativa

O que já não era bonito, ficou horrível e vergonhoso. Em 2024, apenas 12 alunos tiveram nota 10 na redação do Enem
Foto: Reprodução
A compreensão que a maioria das pessoas tem da palavra medíocre é equivocada, associada a burrice e estupidez, quando, na verdade, a acepção é mais matemática que ofensiva, na sua etimologia. Medíocre significa mediano, de média, pessoas ou coisas que emperram no meio e não conseguem avançar a fronteira dos cinco, na escala de zero a dez. É uma palavra relacionada a avaliação de qualidade/quantidade e não a ofensa moral e cognitiva.
Um dos mais importantes instrumentos para mensurar a qualidade da educação brasileira, o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, está aí, para desenhar a dimensão da mediocridade do universo de jovens que disputam uma vaga no ensino superior. Considerando-se a escala de zero a cem, as notas gerais do Enem são puro suco, concentrado, de mediocridade. Quem acredita que, sem apostar em educação, nenhum país rompe o ciclo da pobreza, e haja citação da Coreia e de países que escalaram o desenvolvimento após uma revolução educacional, olha para os números do Enem e vê um diagnóstico assombroso: estamos condenados a estacionar ou regredir.
Tigrinho e BBB
Em 2019, entre todos os participantes do exame, apenas 53 tiraram 10 na redação, ou seja, atingiram 1.000 pontos. Durante os anos da pandemia, os números da excelência, já péssimos, despencaram, patinando entre 28 notas 1.000, em 2020, e assustadores 18 máximas, em 2022. Em 2023, o número de alunos com a nota máxima em redação subiu para 60. Não era grande coisa e não havia razão para comemorar quando milhões de estudantes das redes pública e privada escrevem uma redação e somente 60 tiram nota máxima, incluindo gente que a vida inteira estudou nas melhores e mais caras escolas do país.
Mas o que já não era bonito ficou horrível e vergonhoso. Em 2024, 4,3 milhões de alunos se inscreveram para o Enem e 73,5% fizeram as provas. Apenas 12 tiveram nota 10. Não há consolo possível. E se não há para a rede pública, a mediocridade é inominável para as escolas de elite do país, com mensalidades que ultrapassam em muito a renda mensal de milhões de famílias. E esse número assustador foi em redação, cuja média de notas foi a melhor de todo o exame. Na média geral, a nota de redação ficou em 660 pontos. Em Matemática, foi 529 pontos; em Ciências Humanas, 517; em Linguagens, 528, e em Ciências da Natureza, 495. Tudo ainda mais medíocre. Não à toa, somos um país que acredita que vai vencer na vida apostando no tigrinho, se inscrevendo no BBB e se tornando influencer. Outras alternativas que se apresentam são as milícias e as facções.
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