
Apagão e radinho de pilhas
Cinco segundos foi o tempo da ocorrência da pane. Mais de 27 horas foi o tempo para a situação ser dada como contornada

Foto: Reprodução
Era meio-dia de segunda-feira na Espanha e em Portugal quando um caos de natureza jamais visto se fez. Um apagão energético na Espanha, até agora pouco explicado e numa escala que afetou as centrais nucleares, eólicas e as usinas a carvão, além da centrais elétricas, derrubou o abastecimento também em Portugal e desligou os dois países das conexões com a Europa, feitas a partir da França.
O que se viu foram cenas como se saídas das primeiras páginas e imagens de ‘Ensaio sobre a cegueira’, a obra-prima de José Saramago. Madri, Barcelona, Lisboa, Porto, apenas para citar as metrópoles mais importantes da Espanha e de Portugal, mergulharam no caos, em aeroportos, indústrias, estações de trem, hospitais, bancos, comércio e sistemas de ordenamento de trânsito.
Cinco segundos foi o tempo da ocorrência da pane. Mais de 27 horas foi o tempo para a situação ser dada como contornada, embora os prejuízos ainda estejam sendo calculados e as causas, pesquisadas. A primeira suspeita foi de terrorismo cyber, hipótese a essa altura tida como pouco provável por autoridades, dada a complexidade de simultaneidade, amplitude e sincronicidade, mas não totalmente descartada. A segunda, um efeito adverso climático raro, opção mais referenciada por especialistas e autoridades, mas de difícil explicação técnica.
Cirurgia e isqueiro
Foi como se, num piscar de olhos, tivesse sido acionada uma tecla pause na realidade. Nesse aspecto, as narrações, nas horas seguintes e ainda agora, feitas na imprensa portuguesa e espanhola são peças excepcionais e equivalentes, em beleza, complexidade e espanto, ao que só a literatura parece ser capaz de dar conta. Pessoas presas em elevadores, impedidas de entrar em casa por conta de fechaduras eletrônicas, em mesas de cirurgias de longa duração, qualquer compra inviabilizada, gente com fome sem comida possível de ser feita nem vendida, falta de água nas torneiras e fim do estoque da mineral em poucas horas. Não havia banco, cartão de crédito, sinal de celular, bateria, transporte nem posto de gasolina.
No tempo em que todos os confortos tecnológicos pareciam ter desaparecido, uma cena real era pura literatura de ficção científica: os itens cujos estoques acabaram imediatamente foram rádios portáteis, pilhas, lanternas, velas e isqueiros. São incríveis as imagens na imprensa de pessoas aglomeradas nas ruas em torno de um disputado radinho de pilhas, o único instrumento de comunicação que funcionava, buscando saber o que estava acontecendo. Por via das dúvidas, melhor providenciar essa listinha de compras e manter esses itens por perto.
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