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Apagão e radinho de pilhas

A elite brasileira, entre as possibilidades de avançar e a possibilidade de adotar destinos tranquilos e poucos trabalhosos, sempre prefere a segunda solução
Foto: Reprodução
Há obstáculos para o Brasil aproveitar e aprofundar a relação com a China diante dessa oportunidade que a situação atual abre por consequência da ausência de inteligência e de moralidade na política externa e econômica de Donald Trump. Mas o grande obstáculo para nós, brasileiros, está exatamente no Brasil.
Parece que nós temos uma tendência à fuga sempre que aparece uma oportunidade de avanço brasileiro em termos de nível de vida e de organização social e política. E outra vez isso se repete. Acho que isso se deve à tendência da elite brasileira de preferir as soluções mais cômodas do que as mais promissoras e necessárias, porém também mais trabalhosas.
A elite brasileira, entre as possibilidades de avançar no empreendedorismo (para ficar numa palavra da moda) e a possibilidade de adotar destinos tranquilos e pouco trabalhosos para sua riqueza, sempre prefere a segunda solução - que já foi muito representada pela posse de terras e imóveis, e hoje é representada também pelas aplicações financeiras sem nenhuma finalidade e visão social.
Tem sido historicamente tão cômodo esse comportamento da tal elite financeira que eles não admitem nenhuma alteração, seja de ordem social ou econômica. Reagem. Enxergam comunismo em cada esquina. Com isso, o Brasil vai ficando cada vez mais para trás e mais estagnado. Ainda que avançássemos alguma coisa, o avanço externo é tão maior que nos perdemos em insignificâncias.
Nas décadas de 1920 e 1930, se instituiu a ideia de que o Brasil era um país “essencialmente” agrícola. Mas, na década de 1950, houve um movimento intenso em sentido contrário, querendo contribuir para a difusão de um propósito industrialista, organizativo, etc. O governo de Juscelino Kubitschek vem a ser a expressão mais alta desse movimento. Já no governo Jango houve um recuo E, com o golpe de 64, isso se esvai inteiramente.
E hoje o que somos? Outra vez um país essencialmente agrícola em pleno século 21, com avanços industriais, científicos e econômicos fantásticos pelo mundo fora. E nós exportando soja, que mais? Milho e soja, um pouquinho de café. E a agroindústria domina a política brasileira, porque domina o Congresso. Agroindústria e tome de soja.
* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras
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