
Em matéria de macumba, a verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul
Isso é o meu Brasil. E para quem sonha reduzi-lo à lógica racialista estadunidense, eu só digo uma coisa: “Tá repreendido, em nome de Xangô”

Foto: Reprodução
Uma família candomblecista brasileira pediu asilo nos Estados Unidos, alegando sofrer perseguição religiosa no pequeno município de Goiás onde vive. A solitação, porém, foi negada pela Corte de Apelações do Nono Circuito, em San Francisco. Na justificativa para não acolher os nossos macumbeiros (falo assim carinhosamente, antes que os muito chatos venham patrulhar. Deixem que me entendo com Cristiele), os juízes disseram que eles não comprovaram falha do governo brasileiro para protegê-los e, por fim, aconselharam a família a se mudar para o Nordeste, onde, segundo eles, a religião seria "popular e celebrada". Curiosamente, a notícia chega ao mesmo tempo que o resultado do censo que revelou a menor parcela de católicos e recorde de evangélicos no Brasil. Há outro dado, porém, que pode soar revelação até para nós, e deveria ter sido considerado pelo governo dos esteites para dar um melhor conselho: o Rio Grande do Sul continua sendo o estado com o maior número de adeptos do candomblé e da umbanda no país. O número, na verdade, triplicou nos últimos 10 anos.
Pois é, nem Bahia nem Rio de Janeiro, mas o Rio Grande do Sul, aquele estado colado na Argentina que de vez em quando vinha com a conversa de pedir independência e separar-se do Brasil. O que só revela o quanto esse mesmo Brasil é uma realidade complexa que não pode ser comprimida em nenhuma caixinha simplista, seja ela de esquerda ou de direita. O Brasil é uma maluquice. E precisa olhar a própria realidade com olhos próprios. Dizem que se macumba ganhasse jogo, todo campeonato terminaria em Ba-Vi. Mas, vale lembrar que os catimbozeiros lendários do Bahia foram Lourinho e Alemão (preste atenção aos nomes!). E que o Internacional de Porto Alegre também nos recebeu com um despacho enorme na final de 1988 no Beira Rio. Isso é o meu Brasil. E para quem sonha reduzi-lo à lógica racialista estadunidense, eu só digo uma coisa: "Tá repreendido, em nome de Xangô".
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