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Koellreutter 110 anos - E por que a Escola de Música da Ufba não comemorou seu fundador?

Koellreutter 110 anos - E por que a Escola de Música da Ufba não comemorou seu fundador?

Esqueceram que Koellreutter foi mestre de todos. Todos mesmo: de Eunice Katunda a Tim Rescala, de Tom Jobim a Lydia Hortélio, de Júlio Medaglia a Teca de Brito, de Sergio Villafranca a Claudio Santoro e Guerra-Peixe

Koellreutter 110 anos - E por que a Escola de Música da Ufba não comemorou seu fundador?

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 04 de setembro de 2025 às 07:14

É curioso como nomes como Hans-Joachim Koellreutter não nos chegam mais pelos jornais. Pela imprensa em geral. É de Zé Vaqueiro e Marcinho VP pra baixo. Lembro de esperar o suplemento cultural do jornal A Tarde para ler um pouco mais sobre poetas, compositores, estetas etc, eu que sempre estudei em escola pública e quase não tinha livros em casa. Mesmo assim, agora esperei que a notícia da comemoração dos 110 anos de Koellreutter, na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba), me chegasse pelos sites, perfis, jornais, programas. E isso por um motivo simples: Koellreutter é o fundador da citada escola. Mas, acho que a galera esqueceu que ele nasceu no dia 2 de setembro de 1915 e, por isso, não houve nenhuma comemoração. Na verdade, acho que a galera esqueceu que ele existiu. Que fugiu da Alemanha após ser denunciado pelos próprios pais aos nazistas. Que veio à Bahia a convite do magnífico reitor Edgard Santos e que aqui formou a primeira Escola Superior de Música da América Latina.

Esqueceram que Koellreutter foi mestre de todos. Todos mesmo: de Eunice Katunda a Tim Rescala, de Tom Jobim a Lydia Hortélio, de Júlio Medaglia a Teca de Brito, de Sergio Villafranca a Claudio Santoro e Guerra-Peixe. Além daqueles a quem ele ensinou in/diretamente como John Neschling, Caetano Veloso, Arrigo Barnabé etc. E, entre os muitos legados que podemos destacar da atuação do professor, talvez a mais importante seja a disparidade de estilos e posturas de seus alunos, nenhum "koelltteuriano", como bem observou Edino Krieger. Ele não formava epítetos, seguidores, libertava conhecimentos e formava pessoas.

Koellreutter na Bahia foi um capítulo crucial de um momento incrível, aquele das escolas de arte de Edgard. O desacontecimento d'agora poderia ter sido um pretexto para rediscutir e reoxigenar a universidade. Mas nossos burocratas são... como dizer de forma educada? Melhor nem dizer nada, pois não tenho grana para advogado. Silêncio.