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Era uma vez, uma cidade

Era uma vez, uma cidade

Se o obstáculo a esse projeto é uma lei regida pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, muda-se o PDDU, usando as regras do jogo

Era uma vez, uma cidade

Foto: Reprodução Jornal Metropole

Por: Biaggio Talento no dia 30 de outubro de 2025 às 07:31

Era uma vez uma bela cidade, com praias limpas, Sol brilhando sem obstáculos físicos de edificações para aquecer suas areias, rico patrimônio histórico razoavelmente conservado, sensação de segurança pública para circular em qualquer bairro sem pedir licença a outrem. Mas esse lugar aprazível de morar, a partir de determinado momento se transformou. Com desejos confessáveis e inconfessáveis, os dirigentes da cidade tramaram com empresários inescrupulosos um tipo predatório de expansão urbana, cujo objetivo era extrair para o grupo, o máximo dessa riqueza que era de todos os moradores.

E se o obstáculo a esse projeto é uma lei regida pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, muda-se o PDDU usando as regras do jogo: com a ajuda dos elementos e “elementas” (elementes?) eleito (a) s pelo povo. Mesmo que o povo não tenha assinado procuração para certas atitudes nocivas à cidade. E as mudanças vão se consolidando já que eventuais reações em contrário são abafadas. Se existe óbice para ocupar comercialmente o patrimônio histórico, por exemplo, dá-se um jeito. Caso acidentes ocorram no caminho, abre-se investigação, constitui-se CPIs com discursos vigorosos e indignados que escondem o objetivo único de provar que a fatalidade (e não a irresponsabilidade e a ganância) é a responsável pelos crimes.

Espigões liberados em áreas tipicamente residenciais de casas antigas não parecem ter levado em consideração qualquer estudo minimamente técnico sobre os impactos para o trânsito e o próprio modo de vida da região. E aí ocorre o fenômeno da expulsão das antigas famílias que viram crescer filhos e netos nessas áreas, outrora, aprazíveis.

Com o tempo a convivência nas cidades vai se deteriorando e as pessoas cada vez mais se isolando socialmente ou fugindo.

Calma, leitor. Essas mal traçadas linhas se referem à localidade usada pelo diretor italiano Francesco Rosi para mostrar no filme “As mãos sobre a cidade”, como certos dirigentes mancomunados com representantes predatórios de grupos econômicos poderosos podem fazer tão mal a uma comunidade. A cidade em questão é a italiana Nápoles. Ou não.

E como escreveu Rosi nos créditos: "Os personagens e fatos aqui narrados são imaginários, os contextos social e ambiental são reais".

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