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MOTOCÍDIO ou quando o morto só tem 2 rodas

MOTOCÍDIO ou quando o morto só tem 2 rodas

Nas estatísticas, o morto é apenas um número. Na prática, é o cara que te trouxe o jantar ou simplesmente o cara que sonhava juntar uma grana para comprar o seu material de trabalho

MOTOCÍDIO ou quando o morto só tem 2 rodas

Foto: Reprodução

Por: Francisco Hora no dia 21 de novembro de 2025 às 07:03

Nas ruas de Salvador o barulho das motos é muito mais que barulho – é prenúncio. A cidade já acorda com motos ziguezagueando entre carros, ônibus, buracos e a pressa dos vivos e, como num destino aziago, dormirá com mais corpos no asfalto. Há quem chame de acidentes de trânsito, eu prefiro chamar de motocídio mesmo, até porque quando a mesma cena trágica se repete de forma previsível, deixa de ser acaso.

Nas estatísticas, o morto é apenas um número. Na prática, é o cara que te trouxe o jantar ontem, ou simplesmente o cara que sonhava juntar uma grana para comprar o seu material de trabalho – a própria moto, e que ironicamente foi sepultado por ela. Não haverá como romantizar o caos, o motocídio continuará sendo o crime perfeito – aquele em que todos tem culpa e ninguém tem nome.

Estamos falando de rapazes entre os 20 e 29 anos, pilotando para aplicativos, acelerando entre a gincana do trabalho, o descuido com os equipamentos de proteção e a disputa agressiva pelo mesmo espaço com os motoristas de quatro rodas, num verdadeiro malabarismo da morte. Em outras palavras, urgem providências urgentes, vale a redundância: infraestrutura viária adequada com faixas exclusivas para motos – as Motofaixas ou Motovias, fiscalização eletrônica eficiente, educação e cultura de segurança. 

Nos últimos cinco anos, a frota de motos em Salvador saltou de 160.661 unidades para 216.338, crescendo 38%. Em 2023 na Bahia, os motociclistas responderam por 44,5 % das vítimas fatais de acidentes de transporte e, em 2024, foram 12.888 internações por acidentes de motos. Em Salvador, foram 125 mortes pelo mesmo motivo, nos últimos dois anos, e os que sobrevivem, guardam sequelas para o resto da vida, em sua maioria.

Esses números retratam um fenômeno que deveria ser tratado como um desafio de saúde pública, de vulnerabilidade social e de gestão, de gestão sim, pois não é possível que numa cidade onde se abrem viadutos e espaços para BRT, a todo momento, os motociclistas continuem sendo tratados como se não existissem ou como se muriçocas fossem, a perturbarem a nossa paz enquanto dirigimos. Fossem criaturas do nosso Olimpo social, isto já estaria resolvido. Não tenho a menor dúvida!

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