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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Mário Filho não é um mero nome, é O Maracanã

Mário Filho não é um mero nome, é O Maracanã

Deputados desistem de rebatizar estádio como "Edson Arantes do Nascimento - Rei Pelé"

Mário Filho não é um mero nome, é O Maracanã

Foto: Divulgação

Por: James Martins no dia 08 de abril de 2021 às 08:25

No mês passado, como se estivessem com a vida ganha, deputados do Rio de Janeiro inventaram de mudar o nome do Maracanã, que se chama oficialmente Estádio Jornalista Mário Filho, para "Edson Arantes do Nascimento - Rei Pelé". A proposta harmonizou políticos de diversas colorações ideológicas e foi aprovada pela Assembleia Legislativa do estado, precisando apenas da sanção do governador em exercício para vigorar. Contudo, após reações adversas da sociedade e recomendação contrária do Ministério Público, os próprios parlamentares, liderados pelo petista André Ceciliano, desistiram da besteira que estavam prestes a fazer. "Como disse o poeta: eu prefiro ser essa metamorfose ambulante", justificou-se o autor do projeto de lei, nesta terça-feira (6). E como a desistência se deu na véspera do Dia do Jornalista (7/4), podemos aproveitar o ensejo para fazer justiça a um dos maiores que o país já teve: Mário Filho.

Antes, é preciso esclarecer que eu acho que Pelé merece toda homenagem possível. Que lamento que o Brasil, como verdadeiro Narciso às avessas, seja o único país que infelizmente cospe no rosto do rei. E que a proposta do deputado carioca não peca (muito pelo contrário) por querer homenageá-lo em vida. O problema é o seguinte: não se pode descobrir um santo para cobrir outro. Mesmo que esse outro seja Deus! E, nesse caso, há um agravante: o nicho em disputa, isto é, o Maracanã, tal como o conhecemos, é fruto direto da atuação, da luta de Mário Filho. E outro agravante: a própria notoriedade de Pelé (em que pese todo o seu talento incomparável) também deve algo ao jornalista. “A passagem de uma posição elitista e socialmente excludente do futebol para a sua popularização e inclusão das classes menos favorecidas representadas, principalmente, pela raça negra, deve-se ao papel do cronista Mário Filho, autor, entre outras obras, do clássico ‘O Negro no Futebol Brasileiro’”, atesta a professora Eneida Maria de Souza.

Ela não cita, mas poderia incluir na enumeração também o livro “Viagem em Torno de Pelé”, que o jornalista e escritor publicou em 1963. Verdade maior é que seria necessário muito espaço para listar todas as contribuições de Mário Filho não apenas para a imprensa, mas em toda a cultura nacional. Você não sabia, por exemplo, que foi o seu jornal Mundo Esportivo que promoveu o primeiro concurso das escolas de samba do Rio. Pois agora saiba. Quando ele morreu, seu irmão Nelson Rodrigues escreveu: “Hoje, eu e meus colegas andamos por aí, realizados, bem sucedidos, temos automóveis e frequentamos boates; andamos de fronte erguida e o nosso palpite tem a imodéstia de uma última palavra. Mas eu gostaria de perguntar: o que era e como era a crônica esportiva antes de Mário Filho? Simplesmente, não era, simplesmente não havia".

Pode parecer exagero familiar, e Nelson era certamente dado a hipérboles, mas, analisando friamente os fatos, o que fica é isso mesmo, Mário Filho inventou nossa imprensa esportiva e, em grande medida, a mística do futebol brasileiro. E o Maracanã, que ora tentaram tirá-lo, faz parte disso. "O Maracanã foi uma de suas vitórias mais lindas”, escreveu Nelson. E completou: "Pena é que não o tenham enterrado lá. Com o Maracanã por túmulo, Mário Filho mereceria que o velassem multidões imortais”. Soscrevo.