
Brasil
Lula cobra novo modelo econômico no G20 e defende transição energética com justiça climática
Presidente afirma que principais economias do mundo têm responsabilidade de liderar ações contra a crise climática e pede combate à desigualdade e à pobreza

Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (22) que o G20 (grupo com as maiores economias do mundo) precisa assumir a liderança na criação de um novo modelo econômico, voltado para a transição energética e para o enfrentamento da crise climática. A declaração foi feita durante a sessão dedicada à redução de riscos de desastres, mudança do clima, transição energética justa e sistemas alimentares, realizada em Joanesburgo, na África do Sul.
Segundo Lula, o mundo atravessa uma fase em que é necessário agir simultaneamente em duas frentes: acelerar medidas de combate ao aquecimento global e preparar países para a nova realidade climática. Ele destacou que o G20, responsável por 77% das emissões globais, tem papel determinante nesse processo e deve liderar a mudança rumo ao abandono dos combustíveis fósseis.
O presidente lembrou que o Brasil concluiu, sob sua coordenação, as negociações da COP30, embora setores da sociedade civil tenham criticado a falta de ambição em temas centrais do Acordo de Paris, especialmente a ausência de um cronograma para a eliminação gradual de combustíveis fósseis. Lula afirmou que a semente dessa discussão está lançada e que “a mudança do clima é, sobretudo, um desafio de planejamento econômico”.
Ele também citou a aprovação dos Princípios Voluntários para Investimentos em Redução de Risco de Desastres, documento que reforça a necessidade de financiamento de longo prazo para prevenção e resposta a eventos extremos. De acordo com Lula, não basta aprimorar sistemas de alerta: será preciso repensar infraestrutura, formas de cultivo, gestão da água e geração de energia, além de considerar deslocamentos de famílias e negócios para áreas mais seguras.
Para o presidente, investir em adaptação não deve ser entendido como despesa. “Para cada dólar destinado à adaptação, quatro dólares são poupados em danos evitados”, destacou.
Ainda no discurso, Lula defendeu que um mundo resiliente exige também políticas sociais robustas, combate à pobreza e proteção às populações mais afetadas pela crise climática. Ele mencionou a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, lançada na COP30, que reforça compromissos de proteção social, apoio a pequenos produtores e oferta de alternativas sustentáveis para comunidades que vivem em florestas. Disse ainda que o G20 pode fortalecer cadeias alimentares com compras públicas e seguros rurais.
Mais cedo, Lula discursou na primeira sessão da cúpula, dedicada ao crescimento econômico sustentável e inclusivo. Em sua fala, defendeu a taxação de super-ricos e a conversão de dívidas de países pobres em investimentos para desenvolvimento e ação climática. Ele pediu que a desigualdade seja tratada como uma emergência global e apoiou a proposta sul-africana de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade, inspirado no modelo do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.
Lula também fez críticas ao protecionismo e defendeu o multilateralismo como caminho para soluções globais duradouras. Para ele, as medidas adotadas após a crise financeira de 2008 evitaram um colapso maior, mas foram insuficientes e acabaram gerando efeitos colaterais, como maior desigualdade e tensões geopolíticas. Hoje, alertou, o mundo enfrenta “respostas fáceis e falaciosas”, baseadas em austeridade, unilateralismo e barreiras comerciais.
O presidente encerrou o discurso reiterando que a presidência sul-africana do G20, guiada pelo lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, marca o fim de um ciclo em que todos os membros do grupo já exerceram a liderança ao menos uma vez.
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