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O que faz um cobrador? Ameaçada de extinção em Salvador, função vai além de passar troco
As próprias concessionárias reconhecem que atualmente o cobrador de ônibus tem multi-função

Foto: Max Haack/Agecom
O secretário de Mobilidade de Salvador, Fabrizzio Muller, afirmou na semana passada, em entrevista à Rádio Metropole, que a função do cobrador é “obsoleta”. Isto porque a pasta mensura que 85% dos pagamentos nos ônibus que circulam na cidade, atualmente, são feitos por cartão. Esse dado é usado como justificativa para a extinção parcial ou total da função.
Para Israel Lopes, o argumento não faz sentido. Ele passou 21 dos seus 45 anos sendo cobrador. Durante essas duas décadas desempenhou, diariamente, funções que vão além de dar o troco. "O cobrador é um agente de bordo. Mesmo se não existisse dinheiro nenhum, o cobrador ainda teria o que fazer”, afirmou o profissional ao Metro1.
Faz parte do seu dia a dia, Israel destacou, auxiliar a população e o motorista. O cobrador elencou todas as funções que cumpre: “Tem a situação das pessoas com deficiência e problemas de visão, que precisam de ajuda no embarque e desembarque; tem muitas mulheres que buscam no cobrador uma segurança em casos de assédio; tem o apoio em prestar informações e tirar dúvidas dos passageiros; tem o suporte ao motorista em ultrapassagem, em curvas perigosas, no ponto cego do ônibus”.
As próprias concessionárias reconhecem a multi-função do cobrador. Segundo o diretor do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Tiago Ferreira, “as empresas informam os trabalhadores em palestras nas garagens sobre essas funções orientando para fazer gestão”.
Desemprego e sobrecarga
Diante da possibilidade de extinção parcial ou total do cargo, os trabalhadores temem uma demissão em massa. Não há perspectiva de para onde os cerca de 5 mil profissionais seriam realocados. Aliado a isso, há o receio de uma sobrecarga aos profissionais que terão de conduzir a viagem sozinhos. “E o motorista sozinho para atender a população, olhar o fundo do ônibus, atender cadeirante? O psicológico fica puxado!”, pontuou Israel Lopes.
O argumento de que a medida reduziria o custo das empresas e, por tabela, diminuiria o valor da tarifa dos transportes - atualmente, em R$ 4,90 - também é questionado. Em Curitiba, capital do Paraná, a função foi extinta no último sábado (13) sob a mesma justificativa. Uma semana depois da decisão, não houve qualquer avanço na diminuição da passagem, que segue em R$ 6,00, a mais cara do país.
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