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Farmácia em Salvador usa "clientes falsos" para fiscalizar se funcionários coletam CPFs nos atendimentos

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Farmácia em Salvador usa "clientes falsos" para fiscalizar se funcionários coletam CPFs nos atendimentos

Uma ex-funcionária de uma farmácia em Salvador, que preferiu não se identificar, contou ao Metro1 detalhes das estratégias adotadas por essas drogarias para adquirir as informações

Farmácia em Salvador usa "clientes falsos" para fiscalizar se funcionários coletam CPFs nos atendimentos

Foto: EBC

Por: Leticia Alvarez/Mariana Bamberg no dia 15 de setembro de 2023 às 15:58

Atualizado: no dia 15 de setembro de 2023 às 17:08

A cobrança indevida de informações pessoais, incluindo o CPF, em balcões de farmácia, faz parte de um esquema que começa antes mesmo do atendente pedir ao cliente que forneça os dados do seu documento. Uma ex-funcionária de uma farmácia em Salvador, que preferiu não se identificar, contou ao Metro1 detalhes das estratégias adotadas por essas drogarias para adquirir as informações.

Ana Souza* relatou que as farmácias têm colocado “clientes falsos” para checar se os atendentes cobram o CPF dos consumidores, como é determinado pela gerência. “A farmácia enviava uma pessoa se passando pelo cliente para saber como era o atendimento, se fazia tudo isso [coleta de dados] e se tinha algum problema no cadastro do e-mail, CPF”, revelou. 

Como mostra a edição desta semana do Jornal Metropole, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) já divulgou uma nota técnica informando que há indícios de coleta excessiva e de repasse desses dados para terceiros com outras finalidades. O advogado especialista em Direito Digital Diogo Guanabara explica que os riscos dessa coleta e armazenamento vão desde aquela importunação diária de ligações oferecendo ofertas até o vazamento para empresas que podem não ter o mesmo nível de proteção ou usar para fins ilícitos. Muitos criminosos conseguem, por exemplo, pedir empréstimos bancários apenas com dados como nome completo, RG, CPF e endereço.

Ana Souza disse que, ao obter os dados, a farmácia em que ela estava empregada conseguia acessar o histórico completo de compras dos consumidores. Segundo a ex-atendente, a drogaria justifica aos funcionários que a coleta de informações pessoais era exigida apenas para “traçar o perfil do cliente”. 

“E de tempos em tempos, passava um rapaz lá e perguntava como estava sendo a fatura de CPF, que era muito importante para o traçar perfil de cliente. Nos treinamentos da drogaria era sempre muito enfatizado que era muito importante a captura do CPF. Em caso de identificação de um erro, a gerência era penalizada e repassava para o funcionário”, acrescentou. 

Recentemente, Vitor Bertoncini, um dos executivos da RD Ads - empresa da rede proprietária da Drogaria Raia e da Drogasil - afirmou que, enquanto nos Estados Unidos pedir o CPF é considerado caso de polícia, no Brasil 97% dos consumidores o fornecem em troca de descontos.

*Nome fictício usado para proteger a fonte