
Cultura
'Acham que eu sou do baixo clero da cultura', diz secretária Arany Santana
Titular da pasta de Cultura da Bahia, ela afirma que recebe comentários por ter proximidade com o movimento popular

Foto: Matheus Simoni/Metropress
A secretária estadual de Cultura Arany Santana disse, ao agradecer a entrevista concedida à Rádio Metrópole hoje (30), que recebe comentários que a classificam como de "baixo clero" da cultura, por ter proximidade com o movimento popular.
"Essa oportunidade que você me dá, para dirimir uma série de questões, porque as pessoas acham que eu sou do baixo clero da cultura. Porque venho da origem de bloco afro, porque venho da origem popular, do Pelourinho. Você sabe que nossa comunidade cultural é cheia de nós pelas costas, que acha que cultura e arte é aquela oriunda da academia e acha que a trajetória de movimento social, cultural, de base, do interior, não vale nada. Então essa oportunidade é muito importante", afirmou, em entrevista ao apresentador Mário Kertész.
Durante a entrevista, ela contou toda a sua trajetória, desde que ela e a família precisaram sair da cidade de Amargosa para Salvador por conta do golpe de 1964. Arany afirma que o Exército destruiu a oficina do pai, que era artesão e foi considerado subversivo pelo regime. No primeiro momento que sofreu os efeitos da ditadura, ela ainda estava no interior.
"Na época que estourou o golpe, nós não podíamos mais brincar de roda nas ruas, na noite de luar. Ficamos privados de muita coisa, de ir para a escola, de ficar a té mais tarde na rua, de contar história e fazer visitas. Foi o primeiro momento que senti o golpe militar, em 64", contou.
Depois disso, já na capital baiana, ela passou a sentir o desaparecimento de colegas e também passou atuar nos movimentos de resistência ao golpe.
"Minha trajetória em Salvador, no Colégio Central, nós fazíamos revolução mesmo. Não fazíamos revolução de teclado, nem de computador, nem de WhatsApp, não. A gente recebeu gás lacrimogênio na cara", conta.
A secretária também recordou do preconceito que ela e a família sofreram na escola pública.
"Eu sofri várias discriminações raciais e, todos nós, minha família inteira, no interior. Aqueles apelidos que hoje dizem que é bullying 'Nega preta', 'Venta de Jegue', 'Canela de Tição'... Se você é magro, chama você de vara de tirar caju", lembra.
Arany se formou em Letras com Inglês, passou a ensinar no interior e depois começou a atuar como atriz.
"Quem me deu régua e compasso foi a sala de aula, porque, na sala, você só falta plantar bananeira para seu aluno entender o que está dizendo ou, no turno noturno, não dormir na sua frente. Meu gestual que levei para Escola de Teatro já fazia na sala de aula e, para mim, aquilo era normal", disse.
Colega de fundadores do bloco afro Ilê Ayiê, a secretária também falou que tem orgulho de ter participado do movimento negro e cultural.
"A fundação do Ilê Ayiê foi minha carta de alforria, para todos os aspectos. Foi o movimento que fez com que eu e a Bahia se enxergasse como nação negra e mestiça", defende.
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