'Ouvi de um secretário da Educação que o teatro atrapalha a escola', diz Aicha Marques

A atriz baiana Aicha Marques revisitou a própria trajetória e falou sobre novos projetos, hoje (10), em entrevista à Rádio Metrópole. Com 30 anos de carreira e dezenas de trabalhos no currículo, a artista relatou, durante o programa Na Linha com Mário Kertész, que tem se dedicado ao projeto "Panorama da Literatura", voltado para estudantes secundaristas, que conta a história da literatura brasileira desde a carta de Pero Vaz de Caminha até Clarice Lispector.

Segundo Aicha, a iniciativa foi pensada para a rede pública de educação, mas acabou sendo executada em escolas privadas. "Fizemos esse projeto para a rede pública, mas nunca conseguimos 'vender' à Secretaria de Educação. O que a gente ouviu do secretário foi que o teatro atrapalha muito a escola, porque tira o aluno da sala, depois o professor vai ter que repôr a aula. Mas ele não está tirando aluno da sala pra não fazer nada, tá dando algo de conhecimento, de conteúdo! Chorei por três dias depois disso", contou, sem citar o nome do titular da pasta, nem especificar o período em que o fato aconteceu.

Aicha também relembrou o processo de criação da peça "Uma Vez, Nada Mais", dirigida por Hebe Alves, na qual contracenava com Maria Menezes. "Era tudo em cima do cinema mudo. A gente escolheu a técnica do cinema mudo, que surgiu em 1990, na oficina de Hebe Alves, no curso livre de teatro da Universidade Federal da Bahia. Hebe ensinava as técnicas de câmera rápida, lenta e normal, que é trabalhar com dinâmica, entonação. (...) Era muito engraçado, porque tanto eu quanto Maria Menezes somos pessoas falastronas e cômicas. E a gente olhava uma pra outra e falava 'pra quê a gente inventou isso? Uma peça que não fala uma palavra, pra duas pessoas que falam tanto'", disse.

Durante a entrevista, Aicha recebeu recados de ouvintes que pediram a volta do programa "Desabafo", comandado por ela em parceria com Analu Tavares e Claudio Simões, na Rádio Metrópole. A atriz também falou sobre a importância da técnica, do estudo e da pesquisa para o trabalho em cena. "Arte é técnica. É quase um boxe, mistura de matemática e técnica. O soco é aquele riso, é o momento em que o que eu fizer vai te provocar alguma coisa. Tenho que estar sempre querendo isso, te acertar, puxar sua atenção pra mim. Isso é prática", definiu.