
Educação
Sem celular na sala: lei muda rotina e comportamento de alunos em Salvador
Sete meses após restrição do uso de aparelhos, escolas relatam mais foco, interação e redução de casos de bullying

Foto: Arquivo/EBC
O Dia do Estudante, comemorado nesta terça-feira (11), já foi celebrado de diversas formas. Desta vez, será marcado pela ausência de celulares em sala de aula. Isso porque há sete meses entrou em vigor a lei que restringe o uso dos aparelhos na escola, trazendo desafios para os alunos e também para as instituições. Em Salvador, segundo relatos de gestores escolares, mesmo antes do fim do ano letivo já é possível apontar resultados positivos com a nova regra.
Mais do que reorganizar a dinâmica das salas de aula, a lei também fortalece a autonomia dos professores e reduz interferências externas no processo de ensino. Quem faz essa análise é Wilson Abdom, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (SINEPE-BA), que defende que a medida tem ajudado não apenas na organização da rotina escolar, mas também na redução de casos de bullying e cyberbullying.
Para entender como as escolas têm lidado com essa nova realidade, o Metro1 conversou com diretores e coordenadores de instituições particulares da capital baiana
Mudanças na rotina e no comportamento
Nas salas de aula e nos corredores, a diferença já é sentida. Diretores relatam que os alunos estão mais atentos, participativos e abertos ao diálogo. Há mais escuta, mais troca e um foco renovado nas atividades escolares.
No Colégio Vitória Régia, a diretora do Ensino Médio, Debora Bove, descreve uma verdadeira transformação no ambiente escolar. “A concentração dos alunos melhorou significativamente. A dinâmica dos intervalos também mudou: jogos de tabuleiro, cartas e rodas de conversa passaram a substituir o uso isolado dos celulares”, afirma.
Adaptação e estratégias
Como toda mudança, o início foi problemático. Muitos alunos, especialmente do Ensino Médio, não acreditavam que a medida seria realmente colocada em prática. Para quebrar essa resistência, algumas escolas apostaram em estratégias simples, mas eficazes.
No Vitória Régia, uma das ações mais importantes foi a criação de um Termo de Ciência da Lei, que deve de ser assinado pelos responsáveis. Caso o celular seja retido, ele só é devolvido após a assinatura do termo. No Colégio Cevilha, a abordagem foi unir monitoramento com convivência. O coordenador pedagógico Jefferson Lima Ribeiro explica que a escola tem buscado preencher os intervalos com atividades que incentivam a socialização.
Outro exemplo vem do Colégio Antônio Vieira. Segundo o diretor-geral, Sérgio Silveira, para garantir o cumprimento da norma, o colégio investiu em momentos de convivência entre os alunos, instalou sinalizações que lembram a norma legal e deixou claro que, em caso de descumprimento, medidas educativas mais severas poderão ser aplicadas — o que até agora não foi necessário. “Temos promovido jogos, karaokês e até um show de talentos, organizado pelo grêmio estudantil”, completa.
Quando a tecnologia atrapalha mais do que ajuda
O uso excessivo das redes sociais e de ferramentas de inteligência artificial sem orientação tem preocupado educadores, por afetar diretamente o foco dos estudantes. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças com até 10 anos não usem celulares, apontando riscos para o desenvolvimento neurológico. Em entrevista à Rádio Metropole, o professor Pedro Burgos fez uma simples comparação para reforça a importância de limitar o uso de tecnologias no ensino básico: “você não aprende a somar com a calculadora. Primeiro é preciso entender o processo. Depois, sim, a ferramenta pode ajudar. No início, ela mais atrapalha do que ajuda”, diz.
Quanto ao aprendizado, o uso dos celulares também pode ser um vilão. Vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, Penildon Silva Filho defende a lei e aponta que Educação integral pressupõe também uma educação ética, estética, política, cognitiva, além da emocional. “E as redes sociais, com o ritmo que elas têm, acabam criando muitos prejuízos na educação das crianças e dos jovens”.
No Brasil
A lei já começa a ganhar força em outras regiões. Uma pesquisa da Frente Parlamentar Mista da Educação, em parceria com a Equidade.info, ouviu mais de mil estudantes em 200 escolas públicas e privadas e mostrou que 51% deles já não levam mais o celular para a escola. Entre os que ainda levam, 49% usam o aparelho em desacordo com a nova regra. É importante lembrar que a lei não proíbe a posse do celular, mas restringe o uso durante as aulas e os intervalos, salvo em casos específicos, como atividades pedagógicas, situações de emergência ou para garantir acessibilidade.
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