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Virou esculhambação: Criado para emergências, modelo REDA sai da exceção e vira regra na administração pública

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Passando o trator: União destina recursos da pandemia para a compra de tratores
O estado mais beneficiado foi a Bahia, onde o ex-ministro João Roma (PL), aliado de Bolsonaro, é pré-candidato ao governo
Foto: Divulgação
O governo Bolsonaro destinou R$ 89,9 milhões para a compra de 247 tratores, com recursos que deveriam ser usados para atenuar impacto da Covid-19 nos mais pobres. O Ministério da Cidadania comprou em 2021, com a sobra da verba do Auxílio Brasil. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo no último dia 22.
O Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o uso da verba, em junho do ano passado, a pedido da pasta. O governo federal, entretanto, ignorou as duas exigências feitas pelo órgão: as compras precisavam ter relação com a Covid e ser de custeio, não de investimento
O estado mais beneficiado foi a Bahia, onde o ex-ministro João Roma (PL), aliado
de Bolsonaro, é pré-candidato ao governo. No último dia 28, Roma publicou uma foto
ao lado da sua esposa Roberta Roma, pré-candidata a deputada federal, entregando tratores em Santo Antônio de Jesus, um dos 22 municípios baianos abarcados.
Em entrevista à Rádio Metropole, o professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Silvio Porto, avaliou que a aquisição não ajuda o combate à fome, à miséria e ao fomento à agricultura familiar. Portanto, tudo indica que teve um “objetivo meramente eleitoral”.
“Mesmo que uma família venha a ser beneficiada com um trator, o que ela fará a partir disso? Ela não será beneficiada, ao contrário: [...] isso poderá trazer problemas adicionais no sentido da perda de solo”, acrescenta Porto. Após a repercussão, o Ministério Público junto ao TCU apontou, no dia 1º de junho, um possível crime de responsabilidade e solicitou a apuração do caso. O documento requisita ainda a suspensão dos pagamentos à XCMG, empresa fornecedora dos 247 tratores.
Procurada, a assessoria de Roma negou irregularidades. “Os recursos eram para
ser investidos na área social, e a aquisição desses tratores vai justamente na área de
inclusão social produtiva”, disse. Também descartou motivações políticas. “A Bahia foi
o [estado] mais beneficiado por questão de população e território. Ninguém perguntou a qual partido estava filiado”.
O escândalo veio à tona após as suspeitas de superfaturamento na compra de caminhões de lixo pelo governo Bolsonaro. Entre 2019 e 2021, saltaram de 85 para 488, adquiridos 30% mais caros. Apesar de uma ter usado emendas parlamentares e a outra o orçamento da União, as movimentações têm fins parecidos: equipamentos físicos, fotografáveis, em nome do governo Bolsonaro e aliados, em ano eleitoral.
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