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É rir para não chorar: derrota frustra país, mas memes e piadas de brasileiros marcam Copa
O sonho do Hexa que poderia trazer união e felicidade para o Brasil fica pra trás, mas brasileiros não deixam peteca cair
Foto: Reprodução/Redes sociais
Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 15 de dezembro de 2022
Não tinha como ser diferente. Muitos se revoltaram, xingaram o técnico, defenderam que com suas estratégias o time iria muito mais longe. Afinal, junto com o Hexa viria o vislumbre de um momento de êxtase, depois de dois deprimentes anos de pandemia e do governo Bolsonaro. No lugar veio a frustração depois da derrota para a Croácia. Mas quem disse que o brasileiro deixa a peteca cair. Brasileiro que é brasileiro está sempre pronto para fazer do drama uma piada.
Minutos após a eliminação do Mundial, era só abrir um grupo no Whatsapp ou um feed em uma rede social qualquer e lá estavam os memes. Neymar apontando o dedo e avisando que na terça-feira o expediente de trabalho seria normal; alguém lembrando que é muito melhor ser eliminado pela Croácia do que pela Argentina; e a culpa sobrou até para o gato que foi jogado de uma mesa em meio a uma coletiva da seleção brasileira.
O inglês Michael Oliver, árbitro da partida, também foi alvo da fúria bem humorada dos brasileiros. Pouco ativo nas redes sociais, ele chegou a receber mais de 2 milhões de comentários de brasileiros em apenas uma postagem.
Para os que estavam mais otimistas, o sentimento é de tristeza, mas vem logo seguido por um sorriso e uma reação: “a vida continua, temos muito ainda pelo que sofrer”. É assim que pensa a aposentada Lúcia Oliveira, de 63 anos. Animada com a Copa, ela conta que assistia aos jogos enquanto cozinhava ou fazia alguma atividade doméstica, afinal a vida não para. Mas Lúcia tem certeza que, pelo menos durante os 90 minutos com a seleção em campo, deu para esquecer os problemas. Agora, volta à realidade.
Entre os mais pessimistas, a resposta está na ponta da língua: eu já esperava. Nessa hora todo mundo já sabia. Mas o motorista aposentado Vanderlei Pereira, de 65 anos, vai além e defende que a derrota foi merecida. Perguntado se no dia seguinte à partida houve uma espécie de “ressaca moral”, ele é bem-humorado: “ressaca mesmo só do que bebi durante o jogo”.
“Não fiquei triste. Foi bom para eles [jogadores] tomarem vergonha na cara e montarem uma seleção mais séria. Porque o povo merece. O povo fez uma festa, uma campanha bonita, torceu, se dedicou. O povo precisava”, reclama Vanderlei.
Ainda assim, o motorista aposentado acredita que a torcida poderia ter sido mais engajada se não fossem os problemas com a situação econômica e social do país. Ele sabe de cor: são cerca de 7 milhões de baianos na linha pobreza ou 46,5% da população do estado.
“Se o povo estiver bem alimentado, com um teto para morar, um emprego para pagar as contas, dá para se preocupar menos e curtir a Copa, torcer de verdade. Não é o caso”, lamenta.
Há também aqueles que chegam a quase comemorar a derrota da seleção. Dona de uma banca de verduras no bairro de Pernambués, Maria da Glória não esconde que a eliminação da Copa do Mundo na última sexta-feira foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para seu comércio. E, no final, é isso que importa para ela.
Em dias de jogos, a clientela diminuiu drasticamente e ela se via obrigada a fechar a banca pelo menos durante a partida. Para Maria da Glória, jogo da seleção era só prejuízo. Mesmo assim, ela diz que estava torcendo pelo país. Queria um momento de alegria. E, mesmo assumindo que não entende de futebol, ela integra o time de Vanderlei e dos sabe-tudo: “com aqueles jogadores, eu sabia que não ia muito para a frente”, opina.
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