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Caso Floquet: policiais suspeitos de envolvimento no sumiço de encanador permanecem impunes 35 anos depois

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Caso Floquet: policiais suspeitos de envolvimento no sumiço de encanador permanecem impunes 35 anos depois

Envolvidos no sumiço de encanador, em junho de 1987, policiais militares foram inocentados por falta de provas; prisão foi flagrada por fotógrafo de um jornal local

Caso Floquet: policiais suspeitos de envolvimento no sumiço de encanador permanecem impunes 35 anos depois

Foto: Reprodução/Jornal da Bahia

Por: Jaciara Santos no dia 26 de janeiro de 2023 às 12:06

Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 26 de janeiro de 2023

Aos 29 anos, o encanador Jorge Luís Floquet da Rocha Pitta era o que no jargão policial se chama de “tiro surdo”. Pai de uma menina de dois anos, não tinha antecedentes criminais, embora, segundo a polícia, prestasse serviços ocasionais para criminosos. Coisa de pouca monta, como indicar pontos de vendas de drogas ou avisar suspeitos sobre a chegada de radiopatrulhas à comunidade. Morava no Alto das Pombas, bolsão de miséria contiguo à histórica favela do Calabar.

Em 19 de junho de 1987, uma sexta-feira, após desastrada operação da Polícia Militar, Floquet desaparece. Sua última imagem é registrada pelo fotógrafo Paulo Neves, do extinto Jornal da Bahia. Aparece escoltado pelo tenente Irlando Lino Mascarenhas Magalhães, seguido por Luiz Anselmo Freitas, soldado.

Roubo de veículo 

O drama começou por volta das 14h, quando a Volks Parati placa UD-2328 é tomada de assalto no bairro da Graça por três homens. Pouco depois, o carro é visto no Calabar e o proprietário aciona a PM. Comandante da guarnição Delta-639, o tenente Paulo Marcos Amorim Cunha, 22, vai averiguar a informação. Com ele, um cabo, um soldado e o denunciante.

A Parati estava na Rua do Riacho, a principal do Calabar. Deixada ali por três moradores. O tenente e o soldado saem à caça os suspeitos. Ao entrar em um beco, o jovem oficial é baleado. Atingido gravemente, é levado ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Canela.

Zona de guerra

O ataque ao tenente atiça os colegas da vítima. Perto das 16h, policiais civis e militares transformam Calabar e Alto das Pombas em zona de guerra. Saldo do conflito: dois mortos, vários presos e um desaparecido, o encanador Jorge Luís Floquet.

Na versão oficial, Carlos Alberto Borges, o “Meu Rei”, 22, e Paulo César Sales, o “Nego”, 18, morreram em confronto com PMs. Não é verdade. Ambos foram detidos no Alto das Pombas por volta das 17h. Saíram andando. Duas horas depois, seus corpos crivados de balas são deixados no HGV.

Governo exige apuração

A Operação Calabar gerou intenso clamor público. O governador Waldir Pires exige rigorosa apuração. “O direito à vida é uma coisa intocável”, ressalta, em entrevista coletiva, no dia 10 de julho, quase um mês após a ocorrência.

O promotor público José Gomes Brito até que tentou buscar justiça para as vítimas, ao denunciar os 27 PMs envolvidos no caso. Mas a denúncia não alcança a pretendida reparação.

O julgamento na Auditoria da Justiça Militar do Estado, 11 anos depois, resulta em apenas duas condenações. Os soldados Antônio Carlos Silva Santos e Roberto Nascimento Santana são sentenciados a seis meses de prisão por lesões corporais ao operário Júlio Edson dos Santos, um dos detidos no distante junho de 1987.

Beneficiados pela “extinção da punibilidade”, dispositivo do Código de Processo Penal Militar, os praças nem cumprem pena. Ninguém foi condenado pelo sequestro e morte de Floquet. Denunciados pelos crimes, o tenente Moisés Gomes Mustar Júnior e cinco soldados foram inocentados.

Apesar das evidências, prevaleceu a tese da “insuficiência de provas”, arguida pela defesa. E a morte do jovem encanador, decorridos 35 anos, permanece impune.