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Anônimos Futebol Clube: O que dizem torcedores e equipe dos bastidores sobre campanhas da dupla BA-VI

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Anônimos Futebol Clube: O que dizem torcedores e equipe dos bastidores sobre campanhas da dupla BA-VI

O Jornal Metropole foi às ruas e aos estádios ouvir as explicações daqueles que são desconhecidos no futebol, mas sempre têm uma análise técnica na ponta da língua

Anônimos Futebol Clube: O que dizem torcedores e equipe dos bastidores sobre campanhas da dupla BA-VI

Foto: Divulgação/ECV/Felipe Oliveira/ECB

Por: Mariana Bamberg no dia 23 de novembro de 2023 às 08:04

Atualizado: no dia 23 de novembro de 2023 às 09:06

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 23 de novembro de 2023

Além da onda de calor que toma conta da cidade, o clima em Salvador pode ser de festa ou de apreensão dependendo das cores da sua camisa. Se de um lado, os torcedores do Vitória exibem com orgulho o manto rugro-negro grudado na pele há mais de uma semana, do outro, os tricolores enfrentam uma situação indefinida, com uma lista de queixas e reclamações sobre o clube.

Quem pouco acompanha o futebol baiano não conseguiria apontar com precisão qual dos dois passou recentemente a fazer parte de um conglomerado milionário de times de futebol e nem aquele que vem de um cenário de destituição do presidente e doações para pagar contas. Mas os anônimos do futebol - torcedores, massagistas, roupeiros, motoristas - obviamente sabem. Eles são os especialistas em gestão e técnica encontrados em cada esquina da cidade e conseguem apontar, sem titubear e ainda com uma dose de humor, o que sobrou no Leão da Barra e faltou no Esquadrão para chegarem a resultados e campanhas tão distintas?

Entre a paixão e a gestão

Estrelas de fora do gramado, o massagista do Vitória, Adelmo Nunes, e a auxiliar de serviços gerais do Barradão, Maria Ferreira, têm convicção que a grande diferença foi a gestão. Para eles, a virada de chave no rubro-negro foi justamente a nova diretoria do clube. “A campanha começa fora de campo. Se não tiver uma administração bem organizada, dentro de campo não funciona. E sem verba é muito difícil, mas fizemos, tiramos leite de pedra”, afirma ele.

Funcionário do time há mais de 20 anos e torcedor do Vitória desde menino, Adelmo estava presente quando uma nova diretoria assumiu o rubro-negro, comandada por Fábio Mota. No ano passado, em entrevista à Metropole, o agora presidente chegou a classificar a situação do clube naquele momento como “fundo do poço”. Ele havia acabado de assumir a presidência após Paulo Carneiro ser destituído, e revelou que o Vitória estava sobrevivendo de doações. Na tabela, a situação também era a pior possível: na Série C, chegando a figurar na zona de rebaixamento e com míseros 2% de chance de subir para a segunda divisão. O Leão vivia seu inferno de Dante.

Mas o final desta história - pelo menos até aqui - quem anda pelas ruas de Salvador já sabe: os 2% se confirmaram e Adelmo, Maria e o colega Nerivaldo Ferreira, roupeiro do time, agora enchem a boca para falar que sempre acreditaram em uma reviravolta, mesmo diante dos maus bocados enfrentados pelo time. A temporada de 2023 pode até não ter começado como eles queriam - teve eliminação precoce no Campeonato Baiano, no Nordestão e também na Copa do Brasil -, mas na Série B, o time engatou, com uma das suas melhores campanhas em competições de pontos corridos.

No Barradão, o clima é de festa mesmo restando ainda uma última partida para a equipe. E não é para menos, afinal o Vitória não só garantiu o acesso à elite do futebol brasileiro, mas também levantou a taça de campeão da Série B, primeiro título nacional do clube. Os torcedores agora só têm apenas duas apreensões: colocar ou não a estrela junto ao escudo do time e apontar quem foi o herói dessa conquista. Pelo menos, nesta última decisão, os rubro-negros se dividem. Alguns apostam as fichas no setor defensivo consistente, composto pela dupla formada por Camutanga e Wagner Leonardo. Outros nos veteranos Léo Gamalho e Osvaldo, decisivos quando necessário. Há ainda quem coloque o técnico Léo Condé como o responsável, por conseguir encaixar o time, mesmo com algumas deficiências técnicas.

Já para os especialistas oficiais, que cobrem diariamente o futebol baiano, o herói da campanha rubro-negra foi justamente o torcedor. Comentarista esportivo da Rádio Metropole, Clerisson Amorim aposta na torcida rubro-negra, que fez do estacionamento do estádio um local para festa, com direito a churrasco, paredão e até piscina. Lotou o Barradão, com uma média de 22 mil torcedores por jogo, a maior da Série B. “Desde da temporada passada, quando o Vitória disputou a Série C, o torcedor já mostrou a sua força como o chamado 12º jogador. O Barradão sempre teve a mística de ser um estádio que vibra em relação ao torcedor junto ao time, mas o elenco de 2023 acabou absorvendo muito mais do que em outras temporadas”, avalia Clerisson.

Foto: Divuldação/ECV

O que faltou no Bahia?

Para o Bahia, nem torcida nem investimento foram os problemas. O Tricolor tem a sexta maior média de público do Brasileirão, com 32 mil torcedores por jogo na Fonte Nova. O investimento também foi recorde. Em maio, o Grupo Citty passou a comandar 90% da SAF do clube e a mudança veio com quase R$ 100 milhões gastos durante a temporada e 25 contratações. Mesmo com tudo isso, o fantasma do rebaixamento voltou a tomar conta da campanha. Figurando o Z-4 da Série A, o Tricolor enfrenta uma situação complicada, com 67,3% de chances de cair, segundo cálculos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E a equipe tem ainda pelo caminho times grandes, como Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro.

Foto: ECB/Felipe Oliveira

Mas então, afinal, qual foi o erro do Tricolor? O torcedor Wesley Cerqueira já começa desconcertado, dizendo que é uma questão complexa, mas não deixa de opinar sobre o seu rival: “o Vitória não deve colocar estrela, afinal não foi campeão da Série A”, argumenta. Sobre seu time, o torcedor culpa uma defesa frágil, que tomou 47 gols, e um ataque que não consegue marcar.

“O Bahia tem a quarta pior campanha em casa. Dentro de casa também tem ido bem. Antes, o jogo na Fonte Nova era uma esperança, hoje é uma incógnita. Não conseguiu encontrar um equilíbrio em jogos dentro e fora de casa”, analisa o torcedor, que reclama também das contratações e da demora para desligamento do técnico Renato Paiva.

Clerisson Amorim concorda com o especialista de esquina. Para ele, houve falha na gestão de elenco e um gasto muito grande com contratações que não somaram ao time, só criaram expectativas no torcedor e na própria equipe. E, neste ponto, Wesley tem uma certeza: os torcedores, que aprovaram com mais de 98% a venda para o Grupo Citty, tinham expectativas muito altas para essa temporada. “Houve falta de planejamento deles, mas os erros foram os mesmos que já vinham acontecendo no time”, opina.

Mas Silvio Mendes, narrador esportivo no Campeões da Bola, da Rádio Metropole, não vê coincidência na atual situação do Tricolor e a chegada da SAF. Para ele, na verdade, um tem relação com o outro. “A SAF não entendeu que o Esporte Clube Bahia é um clube de massa, parece que chegou entendendo o time apenas como uma sociedade anônima do futebol, mas não é por aí. Eles ainda não assimilaram que o brasileiro é apaixonado por futebol”, analisa o dono do bordão “segure a cabeça de mamãe”.