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Confrontando o passado: projetos propõem mudanças em espaços que homenageiam escravistas

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Confrontando o passado: projetos propõem mudanças em espaços que homenageiam escravistas

Na busca por algum sinal de reparação histórica, projetos sugerem mudança de nomes de ruas e espaços públicos que homenageiam escravistas e figuras ligadas à ditadura militar

Confrontando o passado: projetos propõem mudanças em espaços que homenageiam escravistas

Foto: Metropress/Filipe Luiz

Por: Lila Sousa no dia 21 de dezembro de 2023 às 13:28

Atualizado: no dia 21 de dezembro de 2023 às 14:45

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 21 de dezembro de 2023

Elevador Lacerda, Rua Barão de Cotegipe, monumento Cristóvão Colombo no Rio Vermelho, Avenida Presidente Costa e Silva ou Avenida Presidente Castelo Branco. Provavelmente você já deve ter passado por esses conhecidos lugares de Salvador, mas não sabe o que tem por trás das homenagens que os nomearam.

O projeto Salvador Escravista, formado por professores de história da capital, explica algumas dessas homenagens. O Elevador Lacerda, por exemplo, como é de se imaginar, faz referência ao seu idealizador Antônio Lacerda e à família dele, mas o que pouca gente sabe é que eles atuavam no tráfico ilegal de africanos. Enquanto isso, a Rua Barão de Cotegipe faz homenagem a um homem que votou contra a abolição da escravidão e propôs uma indenização para ex-senhores. Já o monumento Cristóvão Colombo, no Rio Vermelho, bairro que abrigou um aldeamento de indígenas, exalta a narrativa do “descobridor da América” e omite a violência contra as populações nativas. As avenidas Presidente Castelo Branco e Presidente Costa e Silva, ambas no bairro de Nazaré, homenageiam respectivamente o primeiro e o segundo presidente durante o regime militar no Brasil.

Reescrevendo a história

Pode parecer besteira, mas ruas e praças estão no nosso dia a dia e fazem parte do imaginário popular. Manter materializado nesses espaços homenagens controversas é reforçar uma história que está longe de ser reparada. Principalmente quando elas vêm aliadas à invisibilização de nomes das lutas populares. Mas a boa notícia é que consciência sobre a necessidade dessa representatividade vem, aos poucos, crescendo.

A cidade de São Paulo, por exemplo, criou em 2014 o projeto Ruas de Memória, para rebatizar 22 vias na cidade que levavam o nome de personalidades e datas relacionadas à ditadura. Mas não é preciso ir tão longe, em Salvador, a tradicional via onde estão as Meninas do Brasil (Gordinhas de Ondina), mudou de nome no ano passado. Deixou de ser Avenida Adhemar de Barros para receber o nome de Avenida Milton Santos. Enquanto um foi governador de São Paulo e um dos conspiradores do movimento que culminou no Golpe de 64, o outro era um homem negro, baiano e um dos intelectuais brasileiros mais renomados.

Essa mudança, claro, passou pela Câmara Municipal, em um projeto de autoria do vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB), mas o movimento ganhou força mesmo com a participação popular. Outros projetos com o mesmo objetivo seguem aguardando análise nas casas legislativas. Um deles está desde 2022 tramitando na Câmara Municipal. De autoria do vereador Marcelo Maia (PMN), o projeto sugere que a Avenida Castelo Branco passe a se chamar Avenida Clementino Rodrigues, em homenagem ao sambista Riachão. Outra proposta também aguarda análise, desta vez na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Assembleia Legislativa da Bahia.

O projeto dos deputados estaduais Bira Cora (PT) e Olívia Santana (PCdoB) pretende proibir homenagens a escravocratas, apoiadores do golpe militar e a nazistas. A ideia é que esses espaços mudem de nome e os monumentos sejam retirados e levados para museus. Enquanto projetos como esses seguem aguardando a análise ou um empurrãozinho popular, as ruas e avenidas da cidade continuam reafirmando nomes e episódios perversos da nossa história.