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Em entrevista à Metropole, Juca Kfouri comenta resultado das eleições, capitalismo e bets

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Em entrevista à Metropole, Juca Kfouri comenta resultado das eleições, capitalismo e bets

Um dia após o resultado das urnas no segundo turno, o jornalista Juca Kfouri analisou o resultado das eleições, em entrevista a Mário Kertész

Em entrevista à Metropole, Juca Kfouri comenta resultado das eleições, capitalismo e bets

Foto: Divulgação/Alesp

Por: Metro1 no dia 31 de outubro de 2024 às 00:33

Atualizado: no dia 31 de outubro de 2024 às 16:23

Entrevista publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de outubro de 2024

Mário Kertész: Quando vejo esta ressaca que está tendo no Brasil após as eleições municipais, fico com medo da ressaca que a gente pode ver no dia 5 de novembro, com a eleição presidencial nos Estados Unidos. Como você vê isso?
Juca Kfouri:
Sem querer ser apocalíptico, há uma evidente crise do capitalismo, que não consegue mais responder aos anseios das grandes massas. E, como Freud explicava, as grandes massas, em regra, são acríticas. Pegam uma ideia e vão com ela até o fim. Qual é a ideia? As coisas não estão bem para a maioria, que está preocupada com o seu emprego, seu umbigo e seu consumo. Isso se revela numa insatisfação que as fórmulas imperfeitas de democracia acabam redundando nessas coisas caricatas que a gente vê como resultado eleitoral. Quando você olha para o que aconteceu em Cuiabá, você diz que não é possível a população, por mais que seja intoxicada pelo agro ou pelo ogronegócio, eleger um cara absolutamente caricato como esse Abílio Brunini [...] Agora, qual a solução? Trocar de povo? É o povo que está errado ou nós que não estamos sabendo dizer as coisas ao povo?

MK: Quem elege não é a elite ou a classe média, é o povão. Agora como é que o povão vota em pessoas que nitidamente trabalham, por ação ou omissão, contra esse mesmo povão? Como é que sai desse embrulho?
JK:
Nos Estados Unidos, não tem as mesmas carências no sistema educacional. Na Itália também não. E a gente vê como as pessoas estão votando lá. Na dita democracia mais poderosa do mundo [EUA] tem lá hoje um multimilionário oferecendo 1 milhão de dólares para votar no Trump. Essa é a democracia que queremos? Alguém mais à esquerda e radical dirá que é a de Cuba. E você pergunta: com um partido único? A conclusão que se chega é que ainda não tem um modelo de democracia para tratar como tal. No Brasil, a gente sabe o tamanho do predomínio do capital nas eleições, a este ponto que faz o cidadão votar contra os próprios interesses. É aquilo que Tim Maia acrescentou a um ditado: o Brasil é o país em que a prostituta goza, o traficante cheira, o cafetão tem ciúmes e o pobre vota na direita.

MK: A gente tem, ao lado disso tudo, a manipulação da imprensa. Pequenos segmentos não estão vinculados a interesses financeiros, mas a grande imprensa está. A economia melhorou, diminuiu o desemprego e a ela registra que a inflação vai aumentar se os juros baixarem, porque os juros são fundamentais para alimentar a elite que vive de aplicação, que é gigolô do Estado.
JK:
Imagine que um governador do PT tivesse protagonizado a cena que de Tarciso de Freitas [que relacionou mensagens de facções a Guilherme Boulos]. Hoje não está em nenhum destaque, não tem ninguém escandalizado. Assim como não se fala mais no documento fraudulento que P a b l o Marçal divul - gou. É um pouco demais o comportamento da grande mídia em relação aos seus interesses. Quando se fala em liberdade de imprensa, na verdade, está falando em liberdade de empresa. Se contraria o interesse do veículo, não segue adiante.

MK: Entrevistei o presidente Lula aqui na Bahia e perguntei a ele sobre a bets. Ele disse que, se não conseguir controlar, vai extinguir. Como extinguir?
JK: O Bingo extinguiu depois da CPI, mas as bets não extingue, elas estão fora do Brasil. Não tomaram as providências anteriores. Quem legalizou as bets foi Temer e quem deixou 4 anos sem regulamentação foi Bolsonaro. Lula está fazendo o certo, regulando. Errou no tempo, porque deixaram para valer a regulamentação em 2025. A gente sabe o que houve em 1982, a máfia da loteria esportiva. E a loteria era analógica, em progressão aritmética. Hoje é digital, em progressão geométrica. É incontrolável, é como proibir o cigarro, a cerveja. Pode tentar, não vai conseguir. Perdeu-se a chance de um controle razoavelmente efetivo. O governo federal olhou e pensou: daqui saem R$ 5 bilhões de impostos por ano, nos interessa. Não se fez a conta de quanto vai gastar o SUS para tratar viciados, fora a lavagem de dinheiro.