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Antiga escola técnica se transforma em moradia para mães e filhos, após anos de abandono e depredação
Grupo de mães ocupou prédio da antiga Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia (EEEMBA), no bairro de Nazaré
Foto: Metropress
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 8 de maio de 2025
O prédio de dois andares tem quatorze janelas na sua fachada – ou pelo menos tinha. No muro azul e bege coberto por pichações, um portão leva ao interior do que já representou um dos grandes centros de formação técnica em Salvador, a Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia (EEEMBA), no bairro de Nazaré. Agora o espaço abriga novas histórias: o grupo Ocupação Mulher Guerreira, formado por cerca de 15 mães, decidiu ocupar o espaço para garantir moradia a elas e seus filhos.
Bandeira na porta e ocupação
A ocupação teve início neste domingo (4), poucos dias após um abaixo-assinado com apoio de moradores do entorno, que solicitavam uma destinação útil para o prédio abandonado, que vem sendo alvo constante de invasões e furtos. Em um caderno azul, o grupo lista as famílias que serão acomodadas no espaço após a limpeza, e marca o edifício com uma uma pequena bandeira azul, estampada com a imagem de Mestre Noronha, antigo mestre de capoeira de Salvador.
Fundadora da ocupação, Marimar Coutinho conta que a ocupação já passou por edifícios abandonados no Pelourinho, Baixa dos Sapateiros, Comércio, Santo Antônio e Barbalho. “Soubemos que isso aqui estava fechado, servindo como um lugar de vandalismo e porcaria. Então a gente veio dar vida, vida para quem precisa. As mulheres que estão aqui precisam dessa moradia. Muitas delas tem mais de 5 filhos e não têm maridos”, conta.
Morador da região, João Mineiro também apoia a ocupação. “Minha esposa não passa aqui de noite. Voltar para casa depois da faculdade também tem sido um problema para meu filho. Então porquê não fazer uso desse local para evitar esse vandalismo que está acontecendo aqui? ”, pontua.
Foto: Metropress/Leitor Metro1
Noites embaladas aos sons de invasões
Antes da ocupação, os primeiros passos dentro do prédio já revelavam o cenário de invasões: móveis e documentos revirados; equipamentos dos banheiros furtados e as poucas estruturas metálicas que sobraram largadas no que era sala de aula. Os moradores da região já presenciaram e registraram de um tudo, de furtos e portões sendo arrombados até fogo sendo ateado.
Do orgulho à destruição
Símbolo da educação técnica na Bahia, a Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia (EEEMBA) encerrou suas atividades em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19. Fundada como instituição particular, oferecia cursos como desenho, eletrotécnica, eletromecânica, segurança do trabalho e instalações prediais. Vera Lúcia Paraguaçu trabalhou como auxiliar de disciplina por cerca de 30 anos na escola. Além de funcionária, ela também é moradora da região e revela que, desde o fechamento, a comunidade tem dificuldade de encontrar os 25 sócios da instituição, que, segundo ela, incluía até alguns dos professores. “Cada um acumulou o seu patrimônio e sumiu”, diz.
Assim como o paradeiro dos sócios, o motivo do encerramento das atividades também não é tão óbvio. Mas, segundo o presidente do Sinpro-Ba (Sindicato dos Professores do Estado da Bahia), Allyson Mustafa, antes de ser abandonada, a EEEMBA já vinha com problemas há muito tempo, inclusive com questões trabalhistas. Ele atribui, no entanto, o fechamento a uma dificuldade de se manter competitiva no mercado, principalmente após o fortalecimento do ensino técnico nos Institutos Federais (IF’s).
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