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Casos de violência em sala de aula colocam em xeque autonomia de professores
Oito a cada 10 professores afirmam ter sofrido algum tipo de agressão ou ameaça dentro do ambiente escolar
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 17 de julho de 2025
O caso da professora agredida, em sala de aula, por um aluno em Brumado, no sudoeste da Bahia, colocou em evidência um crescente desrespeito aos docentes nas escolas, um fenômeno que tem impactado diretamente a qualidade do ensino e a segurança dos educadores. O episódio gerou revolta nas redes sociais e renovou o debate sobre as violências sofridas pelos professores, que vão desde a agressão do aluno até o sequestro da autonomia deles no ensino.
O tapa em sala de aula
De acordo com uma pesquisa realizada em 2023 e divulgada neste ano pela Nova Escola e pelo Instituto Ame Sua Mente, 8 a cada 10 professores afirmam ter sofrido algum tipo de agressão ou ameaça dentro do ambiente escolar, um número que avançou 20% em relação ao ano anterior. Não à toa, o Brasil está, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre os países com os maiores índices de violência contra educadores.
O sequestro na sala dos professores
A agressão é apenas um reflexo do que vêm enfrentando os professores e, por consequência, a educação. O presidente do Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (Sinpro-BA), Alisson Mustafá, acredita que não se trata apenas de violência física, mas de um contexto muito maior, em que a figura do professor é constantemente desrespeitada - dentro e fora de sala de aula, por alunos, pais e até as próprias escolas.
Quando ele cita as escolas, está se referindo à retirada da autonomia dos professores no processo de educação - isso inclui, por exemplo, a escolha do material didático, que em grandes redes de ensino se resume a um conjunto de módulos padronizados para as unidades distribuídas pelo país. Eles já vêm prontos, sem poder de escolha do professor e acabam configurando apenas mais uma forma das redes lucrarem.
“Quando uma escola desrespeita direitos do professor, quando lhe retira a possibilidade de efetivamente participar do processo de escolha de materiais didáticos, mas impõe que este professor faça mil ajustes e materiais de apoio para suprir carências do material didático escolhido; quando direções e superiores hierárquicos dos professores assediam professores… Tudo isto é violência", pontua.
Gerações impactadas
O desrespeito do aluno à autoridade do professor em sala de aula é reflexo do desprezo à autonomia dele no processo de educação. Mas enquanto um é visto, denunciado e gera revolta da sociedade, o outro passa despercebido sob o lucro das grandes redes.
Em maio, por exemplo, a Comissão de Segurança Pública (CSP) do Senado aprovou um projeto que exige que as escolas adotem medidas de proteção em casos de agressões ou ameaças aos professores. Em outro movimento, o plenário da Casa aprovou outro PL que prevê o aumento das penas para crimes cometidos dentro de instituições de ensino, com a intenção de inibir as agressões contra educadores e funcionários. Mas quanto ao sequestro da autonomia dos professores pouco se discute, pelo menos até os impactos da formação de um geração darem as caras.
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