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Em meio a urgências reais, parlamentares ocupam-se com datas comemorativas que pouco mudam a vida da população
Na Câmara Municipal de Salvador, só neste ano, já foram apresentados ao menos 11 projetos de leis com a proposta de instituir dias municipais
Foto: Divulgação/CMS
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 17 de julho de 2025
O Brasil tem se superado no quesito criatividade legislativa — e não exatamente no bom sentido. Em vez de avançar em temas urgentes como saúde, educação e segurança pública, parte dos parlamentares se dedica a um desfile de projetos para nomear os dias. Um exemplo recente é o “Dia da Cegonha Reborn”, criado para homenagear as artesãs que fazem bonecas hiper-realistas. Enquanto o número de dias “comemorativos” cresce sem controle o uso da máquina pública para aprovar simbolismos, que muitas vezes não mudam a vida de ninguém, também salta junto.
Sobra dias na CMS
Na Câmara Municipal de Salvador, só neste ano, já foram apresentados ao menos 11 projetos de leis com a proposta de instituir dias municipais. As ideias vão de Dia do Futevôlei (proposta do vereador Marcelo Guimarães Neto) e Dia do Frescobol (de André Fraga) até Dia Municipal do Influenciador Digital, proposta do vereador Kiko Bispo, que diante da repercussão negativa chegou a protocolar um requerimento pedindo a retirada de tramitação do projeto.
Na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), já apontada aqui no Jornal da Metropole pelo excesso de propostas para conceder honrarias, foram ao menos quatro textos apresentados para instituir dias. É dia do Cuidador de Idoso, dos Agentes de Proteção de Menores, de Santa Dulce dos Pobres e da Bandeira do Estado. Todos os projetos apresentados e em tramitação na Casa.
Custo e foco
Se engana quem pensa que não há custo para essas iniciativas. Há, sim, gastos indiretos: tempo de comissão, estrutura legislativa, tramitação, publicações em diário oficial e o mais precioso de todos: o foco. Em vez de enfrentar as urgências reais do país, parte do Parlamento se dedica a agradar nichos eleitorais e garantir visibilidade com projetos inofensivos, mas completamente dispensáveis. Não que não sejam nichos importantes, mas qual a real mudança que virá com a instituição desses dias?
Uma tara por homenagens
A obsessão do Brasil por datas já nos garantiu Dia do Filatelista (5 de março), para quem coleciona selos; o Dia dos Carecas (14 de março), uma ode à calvície assumida; e o Dia da Sogra (28 de abril), instituído ainda por Juscelino Kubitschek — quando sogra era quase política pública. Tem também o Dia do Podcast (21 de outubro), o Dia Mundial Sem Compras (último sábado de novembro) e o “Dia Nacional dos Adultos” (15 de janeiro), uma espécie de resposta ressabiada ao Dia das Crianças que, curiosamente, ninguém comemora.
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