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Com precariedade e superlotação, cresce a violência contra médicos; Bahia já tem 5 casos registrados no Cremeb
No último dia 13 de julho, uma enfermeira de 36 anos foi agredida com socos e arranhões pela acompanhante de uma paciente em um hospital de Salvador
Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 24 de julho de 2025
A pressão por atendimento, a precariedade dos serviços públicos de saúde e a sobrecarga de trabalho têm provocado uma escalada silenciosa de violência contra médicos no Brasil. E a Bahia não está fora dessa estatística.
Segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), 12 médicos são vítimas de algum tipo de agressão por dia no Brasil. É como se a cada duas horas um médico passasse por uma situação de ameaça, injúria, desacato, lesão corporal ou outros crimes. Na Bahia, os números locais também preocupam. O Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) registrou apenas duas denúncias formais de violência contra médicos em 2022, mas o número saltou para 17 em 2023, se repetiu em 2024 e já soma cinco apenas nos primeiros meses de 2025 - o que pode ser ainda maior pela falta de registro dos profissionais.
Ambiente de guerra
A maioria dos casos envolve agressões verbais e ameaças, mas há relatos de violência física e tentativas de ataque com armas em outros estados. Para o presidente do Cremeb, Otávio Marambaia, o principal fator por trás dessa escalada é a precariedade dos serviços. “Se só tem um médico no local e ele tem que atender uma demanda muito grande, obviamente ele não vai conseguir atender no tempo que as pessoas desejam. E com isso surgem disputas, brigas, podendo chegar à violência. Estamos trabalhando em um ambiente de guerra”, diz.
Saúde na mira
O cenário não se restringe aos médicos. No último dia 13 de julho, uma enfermeira de 36 anos foi agredida com socos e arranhões pela acompanhante de uma paciente em um hospital de Salvador. Um ano antes, uma técnica de enfermagem passou por uma situação semelhante ao ser agredida pelos filhos de uma paciente de 80 anos, durante um atendimento home care no bairro da Ribeira. Como nos dois casos, mulheres são as principais vítimas no estado.
Profissionais no limite
A situação tem gerado um ambiente de esgotamento. Há relatos de médicos estressados, ansiosos e alguns sendo assistidos por psiquiatras. Mesmo que ainda não haja um levantamento sobre afastamentos, há sinais de que o estresse crônico, causado também por esse ambiente de medo e pressão, esteja afastando profissionais da linha de frente. O movimento é um ciclo: a falta de estrutura gera insatisfação e violência, que por sua vez leva ao estresse e até afastamento de profissionais, sobrecarregando as equipes e prejudicando a qualidade do atendimento, que retorna como um gatilho para episódios violentos.
Diante dos casos, o Cremeb tem reforçado para os médicos que, caso sofram qualquer tipo de agressão, registrem boletim de ocorrência e notifiquem o Conselho por meio do Departamento de Defesa das Prerrogativas do Médico (DEPMED), que atua há cinco anos acolhendo e orientando os profissionais.
Coincidências ou não
Esses dados surgem em um momento em que a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que aumenta as penas para crimes contra profissionais da saúde, mas também em um período em que consultórios, hospitais e UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) perdem cada vez mais destaque para as redes sociais no processo de informação e orientação sobre a saúde.
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