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Com ironia, coragem e manchete na jugular, o JM celebra 17 anos de jornalismo sem freio e sem medo de provocar
Na contramão do silêncio, o jornal que nasceu da revista mais ousada da cidade celebra quase duas décadas de enfrentamento aos abusos, denúncias de negligências e amor à bagunça bem contada
Foto: Metropress
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 24 de julho de 2025
Se tem uma coisa que a Metropole nunca teve medo foi de fazer barulho — e isso, a gente aprendeu desde cedo, a incomodar mais que buzina de carro em horário de reunião. No dia 18 de julho de 2008, nasceu o Jornal da Metropole, o irmão sem freio da já polêmica Revista Metropole. Impresso, gratuito e impiedoso com os donos dos abusos e das negligências, o JM veio ao mundo com missão clara: informar, cutucar e provocar — sempre com o humor e a ironia que fazem parte do nosso DNA.
Deu certo. E deu trabalho. Chegar aos 17 anos é resistir. É não se calar diante do político ofendido, da construtora milionária, do guru fake ou das concessionárias que vivem deixando a população na mão. É manter o compromisso com a cidade, com a política (a de verdade) e com o jornalismo que investiga, denuncia e ri na cara da censura. Mas para entender o hoje, é preciso olhar pra trás.
Revista Metrópole: o começo da desobediência
Antes do jornal, veio ela: a Revista Metrópole. Estreou em 2007 e já chegou chutando o balde e os outdoors. A capa de estreia trazia o então prefeito de Salvador com nariz de palhaço e a manchete: “Salvador se afunda em caos, lixo e bagunça”. E deu o que falar, saiu foi comentada nos jornais nacionais Folha de S.Paulo e Estadão. E o prefeito? Ele, claro, não gostou. E fez o que político faz quando se sente exposto: tentou calar.
A resposta veio na edição seguinte, como deve ser: “O prefeito mandou calar”. Mas não calou. A revista seguiu por 17 edições, sempre com uma mistura explosiva de jornalismo, ironia e coragem editorial — até dezembro de 2008, quando saiu de circulação, entre outros motivos, pelo alto custo do papel. E olha que tem um detalhe curioso: nos seus últimos meses, entre julho e dezembro, a revista — que era distribuída mensalmente — chegou a circular encartada no Jornal da Metropole. Uma despedida à altura, com crítica compartilhada, porrada bem dada e aquela sensação de que liberdade de imprensa, às vezes, pesa mesmo é no quilo da bobina.
Mas morreu com estilo. Em sua despedida, publicamos com todas as letras: “Morreu antes de completar 20 edições. A família decidiu pela eutanásia. Às vezes, é necessário sacrificar um membro da Família para manter a independência do restante, por mais siciliano que possa soar”. A Revista Metrópole viveu rápido, provocou muito e deixou saudade. Mas o espírito dela não morreu. Só trocou de corpo.
Foto: Metropress/Dimitri Cerqueira Argolo
Jornal da Metropole: do zero, com tudo
O número zero do JM não chegou a circular. Mas o editorial, ah, o editorial já deixava claro a que viemos: “trazer matérias exclusivas mostrando não apenas o dia-a-dia da cidade como também fatos que muitos querem esquecer”. Com tiragem inicial de 80 mil exemplares, o jornal estreou semanalmente nas mãos de quem queria informação com tempero — e sem medo do conflito. A capa era uma declaração de guerra: “ACM Neto x Jaques Wagner. A batalha por Salvador está declarada”. O então governador e o deputado federal eram apontados como protagonistas antecipados das eleições municipais — e o JM já estava no centro do ringue.
Logo depois veio a 1ª edição, essa sim foi publicada: “A chatice está nas ruas”. Era o começo do período eleitoral, com sua barulheira infernal, carros de som desafinados, muros lotados de sorrisos falsos e bandeiras que mais atrapalhavam do que convenciam. A partir dali, ninguém teve mais sossego — pelo menos não quem fazia besteira com o dinheiro público. E vocês acham que ao longo desses 17 anos a gente parou de reclamar da parafernália eleitoral? Nada disso. Já batemos — com gosto — nos “santinhos” que continuam poluindo as ruas, mesmo proibidos.
Denunciamos a sujeira visual, o descaso com a legislação e os velhos truques que insistem em resistir à modernidade. Ah, e a propaganda eleitoral gratuita? Sempre foi o carro-chefe das campanhas políticas no Brasil. Mas, na era dos algoritmos, quem dita as regras: os discursos na telinha ou os likes nas redes? E a turma do fundão? Estamos de olho desde sempre. O Fundo Eleitoral, criado em 2015 para substituir o financiamento privado de campanhas, já acumulou escândalos, distorções e até investigações policiais. Em 2024, distribuiu R$ 4,9 bilhões aos candidatos — e quem acha que esse dinheiro vem do nada, está brincando com a inteligência do povo. Aqui, a gente não esquece quem vota no escuro.
Do número zero até hoje:
Para quem acha que a história do jornal começou leve, vale lembrar: o número zero, que nunca chegou às bancas, já trazia uma bomba: “Custo de cada deputado baiano é de R$ 1,2 milhão”. Sessenta e três parlamentares com salários e penduricalhos dignos de monarquia tropical. Quase duas décadas depois, esse prego segue firme no pé. Em dezembro passado, voltamos ao tema com a capa “Quanto custa um deputado baiano”. Spoiler: mais de R$ 30 milhões por ano, sem contar os salários de assessores. E como a gente não dorme no ponto, nas últimas edições já demos nome aos bois e aos supersalários. E de olho nos três poderes.
Foto: Metropress/Filipe Luiz
A gente dá, mas nunca se vendeu
No calcanhar de quem vive fazendo besteira — o nosso slogan segue mais atual do que nunca. O Jornal da Metropole nasceu pra incomodar. Fruto de um projeto ousado de Mário Kertész e Chico Kertész, com projeto gráfico de Marcelo Kertész e as contribuições do saudoso antropólogo Roberto Albergaria, a publicação chegou em 2008 chutando a porta do jornalismo baiano. Não bastava ser gratuito. Tinha que ser grande, com manchete gritando na banca e projeto gráfico abusado, que não pedia licença nem pra virar a página.
Desde o início, a ousadia foi nossa especialidade da casa. E com ela, veio o humor ácido da radinha. Se pudéssemos personificar, diríamos que o JM é o espírito provocador e irônico do saudoso Albergaria, que participou desde o início da concepção do jornal. “Boca Quente”, por exemplo, era tipo aquela vizinha fofoqueira que sabe de tudo antes do vereador saber. Já o “Você Repórter” dava espaço pro povo mostrar o que a prefeitura fingia não ver: buracos, calombos, valas e aberrações urbanas. E o “Estamos de Olho”? Foi ali que começamos a pregar — com martelo e coragem — nas feridas do patrimônio público.
E como esquecer do “Fucs Fucs”? A nossa gloriosa sexóloga e psiquiatra Gilda Fucs — aquela que não tinha papas — respondia dúvidas cabeludas de leitores e leitoras. E falando em cabelo em pé, “Que P... é essa?” flagrava absurdos dignos de exorcismo, como um banheiro químico bem na porta da Igreja de São Pedro dos Clérigos, no Pelô. Amém.
E colunistas icônicos? Malu Fontes — afiada como sempre — está com a gente desde a revista e continua cutucando feridas com gosto. Nelson Cadena, que já deixou as nossas publicações, marcou época com sua memória de elefante e ironia fina. E agora, nesta nova fase, quem chega para apimentar a roda é Paulo Nogueira Batista Jr., para falar sobre economia. E James Martins? Quem lembra do quadro: “Enchendo o Saco” — que fazia perguntas que nem o capeta teria coragem — meteu pressão em figuras como José Ataíde, Casemiro Neto e até na inabalável Nardele Gomes. Spoiler: ela balançou, mas não caiu.
E teve prêmio, sim: o PEBA. A gente cansou de só reclamar — e resolveu premiar. Lançamos o Prêmio PEBA – Piores Empresas da Bahia, batizado com o aval e a indignação dos ouvintes da Rádio e a sugestão do nome certeiro de Abraão. Porque se a vergonha não educa, talvez um troféu de papelão faça cócegas no ego dessas empresas.
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