Terça-feira, 14 de outubro de 2025

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Notícias

/

Jornal da Metropole

/

Um deslize ou intencional? Confira linhas de investigação sobre mortes causadas por metanol

Jornal Metropole

Um deslize ou intencional? Confira linhas de investigação sobre mortes causadas por metanol

Mais de 250 notificações já foram registradas; autoridades investigam se houve falha na destilação ou adulteração intencional

Um deslize ou intencional? Confira linhas de investigação sobre mortes causadas por metanol

Foto: Reprodução/Freepik

Por: Daniela Gonzalez e Ismael Encarnação no dia 09 de outubro de 2025 às 11:37

Atualizado: no dia 09 de outubro de 2025 às 11:38

Essa matéria é parte da reportagem especial publicada originalmente no Jornal Metropole em 9 de outubro de 2025

Desde que o metanol voltou às manchetes por matar cinco pessoas que consumiram bebida alcoólica contaminada em São Paulo nas últimas semana, já são mais de 259 notificações de intoxicação : 24 delas já confirmadas e as outras 235 com investigação em andamento. Polícia Civil e Polícia Federal investigam o caso e as linhas de investigação vão de envolvimento do crime organizado à falha na produção. Confira as possibilidades levantadas:

A Polícia Civil de São Paulo, onde foram registradas as cinco mortes por intoxicação de metanol, trabalha com duas linhas de investigação:

1. Uma das suspeitas é que o metanol teria sido usado em fábricas clandestinas para a higienização de garrafas que foram reaproveitadas na venda de bebidas falsificadas. 

2. Há também a hipótese de que o metanol (ou etanol batizado com metanol) foi utilizado para baratear e aumentar o volume de produção de bebidas falsificadas. Uma outra possibilidade é o falsificador ter utilizado o etanol batizado sem saber que ele estava contaminado com metanol.

A Polícia Federal, que também investiga o caso, não descarta nenhuma das hipóteses e ainda suspeita da seguinte:

3. Os casos de intoxicação podem ter surgido na esteira de uma mega operação que mirou o envolvimento do crime organizado no setor de combustível. Após a operação, diversos tanques de metanol, que é usado para adulterar combustível, foram encontrados abandonados. A suspeita é que, para dar vazão a esse produto, os grupos envolvidos tenham repassado para fábricas clandestinas de bebidas alcoólicas.

Estudiosos da área, como a doutora em Química Analítica Débora Santana, que desenvolveu sua tese sobre cachaças baianas, também levanta outra hipótese:

4. A contaminação com metanol pode estar relacionada a falhas na produção em fábricas clandestinas, sem o rigor técnico necessário. Isso porque ele é um dos subprodutos no processo de destilação. São geradas três frações distintas, a primeira delas contém metanol, acetona, aldeídos e éteres, e deve ser descartada. Quando o corte não é realizado corretamente, essas toxinas acabam presentes no produto final.

O massacre baiano: a intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas não é algo novo. Nos anos 1990, mais de 60 pessoas morreram na Bahia após ingerir bebida contaminada, os casos não tiveram tanta repercussão até chegarem, neste ano, a bairros de elite em São Paulo. Veja aqui

Um deslize ou intencional?

O Metanol é um álcool utilizado na indústria como um solvente ou na produção de biodiesel e alguns tipos de plástico. Ele é mais barato que o etanol, álcool das bebidas. Mas, no geral, os falsificadores misturam água com etanol - e não o metanol. Quando ele está presente geralmente é por alguma falha na produção ou envasamento. Até porque matar o cliente por intoxicação não é uma boa estratégia mercadológica para quem quer reduzir custos e aumentar o lucro. Por isso, a linha de investigação envolvendo o crime organizado e a intenção de dar vazão ao produto tem desidratado, foi inclusive descartada pelo governo de São Paulo.

Mas o presidente do Conselho Regional de Química da Bahia, Antônio César, ainda é muito cedo para determinar se os casos recentes ocorreram por erro ou adulteração intencional. “A probabilidade de ser proposital é grande, mas é algo que só as investigações da Polícia Federal e das autoridades sanitárias poderão confirmar”, afirmou.

Fiscalização depois do gole: Após cinco vítimas em São Paulo, operações foram deflagradas em todo o país — inclusive na Bahia, onde uma fábrica foi fechada e 600 garrafas apreendidas. Mas o cerco chegou tarde. Veja aqui